quarta-feira, 13 de julho de 2011

PRECONCEITO LINGUÍSTICO

Por Madalena de Jesus

Como profissional de comunicação (jornalista e radialista) e professora da área de Letras, jamais poderia aplaudir atentados contra a nossa língua, já tão sofrida por conta dos remendos recebidos ao longo da história. Até porque trabalho com produção textual e a nós, graduados e conhecedores das normas da linguagem dita padrão, não é dado o direito de ignorar os códigos que norteiam a nossa gramática.

Mas daí a usá-los para praticarmos o mais cruel dos preconceitos – o linguístico – a distância é grande. Se teóricos da Língua Portuguesa (Marcos Bagno, por exemplo) fazem manifestações contra essa conduta e admitem o uso do PNP (Português Não Padrão), por que eu, pobre mortal, tenho o direito de criticar quem quer que seja?

E só a título de ilustração, indico a leitura dos poemas “O Poeta da Roça”, de Patativa do Assaré, e “Vício na Fala”, de Oswald de Andrade.

O Poeta da Roça


Sou fio das mata, canto da mão grossa,
Trabáio na roça, de inverno e de estio.
A minha chupana é tapada de barro,
Só fumo cigarro de paia de mío.

Sou poeta das brenha, não faço o papé
De argun menestré, ou errante cantô
Que veve vagando, com sua viola,
Cantando, pachola, à percura de amô.
Não tenho sabença, pois nunca estudei,
Apenas eu sei o meu nome assiná.
Meu pai, coitadinho! Vivia sem cobre,
E o fio do pobre não pode estudá.

Meu verso rastero, singelo e sem graça,
Não entra na praça, no rico salão,
Meu verso só entra no campo e na roça
Nas pobre paioça, da serra ao sertão.
(...)

Vício na fala

Para dizerem milho dizem mio
Para melhor dizem mió
Para pior pió
Para telha dizem teia
Para telhado dizem teiado
E vão fazendo telhados.

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