sexta-feira, 27 de abril de 2012

ACABOU A MICARETA, AGORA É SÓ SAUDADE.

Alegria, tranquilidade e satisfação. Enfim, sucesso! Este é o resultado da Micareta 2012, realizada pela Prefeitura de Feira de Santana entre os dias 19 e 22 de abril. Nestes quatro dias de muita festa, o folião pipoca pôde se divertir com as mais diversas atrações nacionais e locais, dentre elas: Ivete Sangalo, Chiclete com Banana, Magary Lord, Margareth Menezes, Carlinhos Brow, Pablo, Paulo Bindá e Márcia Porto.

Foi a Micareta do povão. E haja gente!O circuito Maneca Ferreira, na avenida Presidente Dutra, foi tomado por uma multidão de quinta-feira (primeiro dia oficial da festa) a domingo. Pessoas que foram para brincar, dançar, extravasar. Democraticamente, num verdadeiro bloco sem cordas, o folião acompanhou de perto no corredor da folia a apresentação de grandes atrações contratadas pelo Governo Municipal.

A musa do axé, Ivete Sangalo, foi uma das mais esperadas. E ela correspondeu à expectativa. De cima do trio elétrico Barretão, a cantora “abalou” as estruturas, fez um “arerê”, uma “levada louca” na avenida. E também correspondeu aos fãs mais apaixonados num “amor perfeito”, “na base do beijo”, numa “química perfeita”.

Este domingo de Micareta, certamente, ficará marcado na memória do povão. Teve ainda Trem de Pouso com Ninha, Adelmo Casé e sua Negra Cor, furacão Psirico, Tomate à frente de A Tribo, uma aeronave na avenida, o Aviões Elétrico, mais o pagode alegre da turma do É o Tchan e o axé do Chicana, que puxaram o bloco Pinta Lá, dentre tantos outros.

A passagem do Chiclete com Banana, na sexta-feira (20), foi uma explosão de alegria. Felicidade que transbordava entre rostos de todas as cores, raças, idades, classes e tribos. Um contagiante coral de vozes ecoou pelo sítio da festa entoando vários sucessos da banda, liderada pelo cantor Bel Marques. Este foi o segundo ano consecutivo que o Chiclete vem a Feira de Santana comandar a folia na pipoca.

Já Magary Lord fez sua estreia na Micareta de Feira, no sábado (21). Ao som do estilo Black Semba, ele inventou moda na avenida. A ansiedade dos foliões para vê-lo no Maneca Ferreira foi compensada com uma grande apresentação, marcada pela irreverência do grupo musical. E como não poderia faltar, Magary cantou “Billie Jean”, destaque pela coreografia e letra da música, seguido do cumprimento que se tornou marca das apresentações do cantor: “Iêba, iêba”.

Mistura de estilo e ritmo

Samba de roda, carros alegóricos e apresentação de manifestações da cultura afro. Na Micareta 2012, o axé também cedeu espaço ao regaee, lambada e arrocha. O forró pé de serra foi levado para a avenida pelo bloco Folia Caipira, que homenageou o centenário do rei do baião, Luiz Gonzaga. O bloco Quixabeira da Matinha representou o samba de roda e as raízes da zona rural feirense. Músicas que cantam os dramas e alegrias dos sertanejos e do homem do campo foram resgatadas ao longo do desfile na avenida.

O som dos tambores, atabaques e agogôs animaram o circuito Quilombola, durante as apresentações dos blocos afros e afoxés. O espaço dotado de arquibancada e palco concentrou também inúmeras pessoas que preferem ficar mais afastadas do centro da festa. No Espaço Charles Albert, situado no bairro Kalilândia, famílias, idosos, crianças, enfim, um público variado também encontrou muita diversão ao som das marchinhas que deram à Micareta de Feira o tom dos antigos carnavais.

Neste ano o espaço fez uma homenagem ao centenário do rei do baião, Luiz Gonzaga. O local foi decorado com detalhes bem irreverentes, com máscaras, palhaços, plumas e até mesmo um jeep. A folia por lá teve início com a coroação das majestades da terceira idade. O baile infantil também abrilhantou a folia de momo. Crianças fantasiadas encheram a praça da Kalilândia de inocência. Que público animado!

Renata Leite, jornalista.

terça-feira, 10 de abril de 2012

UM TOQUE DE VIDA



Por Madalena de Jesus


Tudo na vida dela foi intenso. Da alegria à dor. Da ingenuidade diante da maldade humana à generosidade que a levava a dar até o que não possuía. E quando a questão era amar... Ah! Ela levava tudo na frente, porque o seu amor também não tinha medida: pelos filhos, pelos parentes, pelos amigos, pelo próximo, pela vida.

Cida era, sobretudo, vida. E demonstrava isso no falar, no dançar, no vestir. Se fosse flor, certamente seria um girassol, espalhando brilho e cor para todos os lados. Talvez um girassol roxo ou lilás, rosa choque ou verde limão. Impossível? Não para ela, que tornava reais as coisas mais inverossímeis e fazia realizar os mais estapafúrdios projetos.

Mas de todas as características da jornalista que tinha pena até de família de bandido morto a mais forte em minha lembrança é a segurança. Sabe aquela pessoa que parece ter certeza absoluta de tudo, mesmo quando o medo era iminente e todas as probabilidades de algo dar errado eram bem visíveis? Ela fazia de conta que não estava vendo e seguia em frente. Sempre.

Foi assim, por exemplo, quando sua irmã Zefa partiu para outra dimensão e no meio da dor de perder alguém tão querido, ela decidiu adotar seus dois filhos. Assim, na hora, sem maiores questionamentos. Não houve um momento sequer de dúvida, porque para Cida nunca existiu dúvidas quando a questão era fazer o bem, ajudar, compartilhar, dar.

Mais do que colega de profissão – e com muito orgulho – amiga e comadre, Cida foi minha parceira de vida. E suas últimas palavras, na assustadora lucidez de nosso último encontro, foram “se cuide”, uma prova inequívoca de que ali, no leito do Hospital Dom Pedro de Alcântara, estava viva – como permanecerá para sempre – a sua essência.

Aceitava todos, sem restrições. No meu caso, mesmo quando algum palavrão escapulia da minha boca, por mais que eu evitasse falar diante dela. “Minha comadre fala essas coisas com tanta naturalidade...” Apenas um comentário, sem nenhuma reprovação. Também não era dada a cobranças, a não ser que nós, os amigos, estivéssemos sempre por perto.

Eu poderia contar casos e mais casos de nossas viagens quando trabalhávamos na Gazeta de Notícias e na Revista Panorama; de nossa convivência diária no Jornal Folha do Estado e na Secretaria de Comunicação Social (Secom); ou mesmo no dia a dia de nossa convivência. Éramos comadres no mais profundo sentido da palavra.

Cida não teve filha. Somente meninos, um dos quais dividiu comigo a maternidade, permitindo que eu fosse responsável por dar a Victor o primeiro sacramento, o Batismo. Talvez isso justifique o imenso amor que desenvolveu por Bárbara, a quem chamava de princesa e tinha orgulho e carinho de uma verdadeira mãe.

Aliás, ela era mesmo meio “mãezona” dos sobrinhos, das crianças que moravam por perto e dos filhos dos colegas jornalistas. Tanto que criou o bloco “Zerinho”, que este ano completaria 21 anos de avenida, para a alegria da garotada. Não foi à toa que a última edição do bloco que ela produziu o tema foi “Mulher Maravilha”.

Enfim... Mais uma vez ela surpreendeu e nos deixou meio que abobalhados diante do fim de uma luta que acreditávamos que seria vitoriosa, pela fé que emanava dela. Resignada, não reclamava jamais. Determinada, não desistia nunca. E até o fim manteve acesa a chama do que a movia e fez dela uma rainha entre nós: o amor pelas pessoas.

Cida foi a melhor pessoa que já conheci nesses 54 anos de vida. E digo isso sem medo de ser piegas, porque é a mais pura verdade. Senti isso bem de perto muitas e muitas vezes, principalmente durante o período que mantive no ar seu programa – ou melhor, seu projeto de vida – “Um Toque de Mulher”, que para mim representou “Um Toque de Vida”. Eterno, como ela.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

CIDA MACHADO E SUA GERAÇÃO DE "SUPERMULHERES"


Por Valdomiro Silva

Madalena de Jesus, Maura Sérgia, Neire Matos, Leda Albernaz, Conceição Lobo, Elis Regina, Maria Aparecida. Tive a honra de trabalhar diretamente com essas mulheres, de uma geração de jornalistas feirenses que marcou época – algumas delas ainda brilham entre nós e esperamos que continuem firmes conosco por muito mais tempo. Deste grupo, partiram, todas muito precocemente, Conceição Lobo, Elis Regina e Maria Aparecida.

Cida, a mais recente perda, se foi de uma maneira muito cruel, atingida por um câncer que a fez definhar. Conceição, que era uma vibrante repórter policial, sucumbiu a um ataque cardíaco com pouco mais de 30 anos de idade. Elis, da mesma faixa etária, vítima de um acidente automobilístico quando seguia para Aracaju, onde trabalhava e buscava o diploma em jornalismo – embora já fosse uma excelente profissional de comunicação em sua época.

Agora, a imprensa chora a morte de Cida, que também nos deixa ainda muito cedo. Lembro-me bem dela quando ingressei no “Feira Hoje”, em 1983, como estagiário do curso de Redação do Colégio Estadual. Cida já era repórter e grande amiga de Neire e Madalena. Elas formavam um trio quase inseparável.

Mulheres de muita personalidade. Em um tempo em que os homens dominavam quase todas as profissões e costumavam fazer prevalecer suas opiniões, Cida, Madá, Neire e suas amigas conseguiam se impor e macho nenhum se metia a besta com elas. Eram muito fortes, realmente. E pareciam levar muito a sério a máxima de que a união faz a força.

Aparecida sempre foi uma mulher muito bem resolvida, praticamente mãe e pai dos seus dois filhos – ambos, aliás, muito bem criados, hoje profissionais, que estiveram rentes com ela, em seu calvário contra o câncer, até o último momento. Uma mulher que teve de lutar contra preconceitos e que não precisou de companhia masculina para se firmar.

Secretária de Comunicação do Município, editora do jornal "Folha do Estado", radialista, empresária do ramo de bloco micaretesco, dirigente do Sindicato dos Jornalistas. Foram muitas funções executadas por Cida, enquanto esteve entre nós.

“Seeeerra!”. Assim ela me saudava, alegremente, sempre que nos encontrávamos. Nunca com um “e” simples. A vogal era prolongada, efusiva. “Serra” era a forma carinhosa como me chamava, em alusão ao apelido original, “Serrinha”. Além dela, só mais dois amigos, me cumprimentam dessa forma: Madalena de Jesus e Jailton Batista.

A alegria de viver, manifestada no riso sempre espontâneo, no salão de danças durante as festas, nas inúmeras amizades que soube conquistar, são exemplos que ficam para todos nós. Sua fé inabalável e a maneira corajosa e obstinada com que enfrentou o câncer são um valioso legado. Cida, você não perdeu esta luta. Encarou o monstro sem perder o brilho nos olhos nem nos momentos mais terríveis. Uma vitoriosa, que superou todas as batalhas de sua vida. Uma verdadeira campeã. Invicta.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

DESENHOS DOTADOS DE EMOÇÃO






Por Ordachson Gonçalves


Caneta esferográfica, lápis, nanquim e mistura aquarela dão vida a personagens cheios de sentimentos e estado de espírito. A desenhista e artista plástica Carol Belmondo utiliza-se das formas mais simples de se fazer arte-plástica para expressar sensações bastante comuns da natureza humana, como melancolia, tédio, inércia ou desamparo.

Recentemente seus trabalhos foram selecionados para compor o livro Antologia Rabiscos de desenho e arte contemporânea, da Fundação Cultural do Estado da Bahia (Funceb). Formada em Artes Plásticas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), a feirense de 23 anos já participou de algumas exposições individuais e coletivas como a 1º Bienal de Arte e Design (EBA- UFBA, 2008), Mostra de Esculturas (Museu Eugênio Teixeira Leal, 2009), além de Embalos da tarde vazia (MAC-FSA, 2011).

Entretanto, a artista da era digital utiliza a internet como principal ferramenta de divulgação do seu trabalho. Carol publica todos os seus desenhos no blog: http://quaseumacatarse.blogspot.com.br. Seus personagens se destacam por gestos peculiares e expressões próprias, e o cenário é sempre coerente com o sentimento expressado.

A técnica aplicada parece se encaixar perfeitamente dentro da proposta da artista: desenhos simples, mas sem perder a temática. Carol salienta que o envolvimento com o tema resulta em uma auto-retratação em alguns momentos. “Exploro a figura humana através de temáticas que constituem a existência, como a solidão e a afetividade. A experimentação de materiais também se faz presente, o uso de diferenciados tipos de papel que servem de suporte para o desenho são usados, a exemplo do papel manteiga”, explica.

A característica predominante é o foco no ser humano, principalmente nos aspectos emocionais. “O momento de tédio, de inércia, de pessoas que estão passando por conflitos e eu tento de alguma forma retratar as suas personalidades”, pontua. Os tons sutis e uma ironia comedida também são aspectos facilmente percebidos nos trabalhos de Carol.

O escritor feirense Ederval Fernandes, que assina um dos textos de apresentação da artista, ressalta que a arte de Carol não busca a anatomia perfeita. “São pessoas envoltas em seus dilemas, não apenas curvas sólidas, sem paixão ou tristeza, recipientes de técnicas. São figuras humanas compostas com muita delicadeza para que se transpareçam não suas fisionomias, mas seus temperamentos”, define.

A produção artística de Carol Belmondo concentra-se no desenho e na pintura, mas também flerta com a fotografia. A influência da ‘pop art’ e do grafismo é nítida em seus trabalhos. “As pessoas são sua matéria de trabalho, seu objeto de estudo, sua fonte de espanto”, descreve Ederval.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

POPULAÇÕES NEGRAS NA BAHIA





O professor e historiador Bel Pires lança, na quinta-feira (5), o livro “Populações Negras na Bahia – Ensaios de História Social”. A obra reúne textos de 11 autores e aborda temas diversos relacionados com as experiências e atividades das comunidades negras da Bahia.

O lançamento será realizado a partir das 18 horas, na nova loja da livraria Atlântica, na avenida Getúlio Vargas, nº 3143, em Feira de Santana. A obra é editada pela Apprius Editora.

Segundo Bel Pires, o livro tem como objetivo disponibilizar para o público leitor uma síntese da produção baiana sobre a história das populações negras e contribuir com a implementação da lei 10.639, que obriga o ensino da História e Cultura da África na educação básica.

Bel é doutor em Estudos Étnicos e Africanos pela Universidade Federal da Bahia (Ufba), mestre em História Social pela Ufba e graduado em História pela Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs). Atualmente ele é coordenador do grupo de pesquisa Populações Negras (Uneb/CNPq), sediado em Itaberaba.

Autor dos livros: No tempo dos valentes (2005); Capoeira, identidade e gênero (2009) e Aloísio Resende, poeta dos candomblés – história das populações negras em Feira de Santana (2011).