terça-feira, 2 de julho de 2013

A RELIGIOSA MEGERA



Ela é uma mulher ríspida, teve infância triste, viveu sob pressão. Seus esposos não foram grandes amantes, mas apenas homens que estavam ao seu lado para cumprirem um papel social: marido explorado. O primeiro era o bobo, cuja personalidade só pode ser comparada a personagens de novelas grotescas, mas carregava consigo certa nobreza típica do proletariado. Este teve um triste fim, estava sobrevivendo em São Paulo e foi assassinado em horário de serviço, ele tentava ganhar dinheiro para sustentar seus quatro filhos e sua “amada” esposa, mas assaltantes também têm filhos e precisam alimentá-los. Quando soube da morte ela cumpriu o papel teatral de vítima amargurada que se pergunta: por que eu? Mas ela não se dava ao luxo de pensar certas trivialidades, a pergunta que surgia na sua cabeça era: e agora quem me sustentará?

Os filhos ficaram em choque com a morte do pai, mas sabiam que a vida continuava. Com a morte do primeiro marido as coisas ficaram difíceis pra ela e seus filhos. Passaram por muitas dificuldades, mas nunca chegaram ao ponto de serem taxados de família morta de fome, pois como tinham nascido em lugar pequeno carregavam em suas genéticas a persistência e labuta de pessoas do campo. Tinham um pedaço de terra, plantavam ali e sobreviviam dali. Algumas pessoas diziam que a viúva receberia uma pensão até seu filho mais novo completar dezoito anos, mas tal afirmativa nunca saiu da boca da mesma. Ela que não era boba nem nada, já estava de olho em mais um partido. Seu nome era Zé Burraldo, um velho com uns 55 anos que também era viúvo, tinha uma quantidade boa de terra, mas também tinha filhos, ou seja, dois. Por sorte da Jararaca o Burraldo ficou gravemente doente e veio a falecer. Ninguém notou tristeza na face da venenosa, pois todos sabiam que a viúva negra só tinha relacionamentos financeiros com seus cônjuges.

A venenosa não herdou lá muitas coisas do Burraldo, mas o que herdou foi suficiente para aumentar seu patrimônio advindo de mortes. Ela ainda não se contentava com o que tinha, mas não tinha em mente mais um casamento, então ela viu em seus dois filhos, coitados em potencial. Ela sabia que seu treinamento (pra não dizer criação) não tolerava questionamentos a respeito de suas táticas de   “guerra”. Ela como bem dizia, era mãe e pai ao mesmo tempo, em uma mão ficava a brutalidade paterna, na outra, bem na outra inexistia a fragilidade materna.

Quando seu filho mais velho completou dezesseis anos ela tratou logo de enviá-lo a São Paulo, lá ele sofreu um bocado, pois não tinha quase nenhum estudo, mas carregava em sua genética a “treiterisse” da sua querida mãe. Ele começou trabalhando como ajudante de cozinha, depois montou um restaurante, não com o dinheiro que ganhou do seu primeiro emprego, mas sim em consequência do segundo: tráfico de drogas. Mas em nossa majestosa sociedade não importa o que você não tem, e não importa de onde veio o que você tem, o que importa na verdade é ter o que poucos têm. Seu querido filho comprou vários bens e deu de presente para ela, a mesma achou tal ação o mínimo, já que na visão dela filhos servem apenas de muleta para os pais.

Ela é todo orgulho, exibe se para os amigos da igreja, sim ela agora é uma religiosa, pois já é uma senhora de idade e em lugares pacatos estar numa religião torna a pessoa melhor que aqueles que não estão. Agora ela mostra para todos o que é o certo e o que é errado, sim caros amigos ela acha-se a mãe da sabedoria. Seus conceitos sobre a vida são horrendos e só mostram o quanto monstra ela foi à criação dos seus eternos explorados. A purificada tem certeza que Deus reservou algo especial pra ela, mas o que todos concordam é que no inferno tem uma suíte presidencial à espera da megera.

Por Deivison Santos


3 comentários:

  1. Que honra ter um texto publicado por uma pessoa tão especial e ilustre e amada e humana e sencaional. Obrigado minha musa.

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  2. Ótimo texto, Deivison/Quel. Verborrágico! Parabéns! Acho que a história é baseada em fatos reais. Rsrsrs. Abraço

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    1. Obrigado amigo/primo. Saudades da nossa maravilhosa turma da faculdade. Abraço. Será?kkkkk

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