segunda-feira, 8 de julho de 2013

PIRÂMIDES DE AREIA



[*] Gabriel Varjão Lima

Não sou economista, analista financeiro, contador, administrador - nada disso. Minha formação é em saúde, apesar do interesse que nutro por essas outras áreas. Mas não é preciso ter o gabarito de um Alexandre Tombini, atual presidente do Banco Central, para dar-se conta do recente oba-oba promovido por empresas que prometem lucro fácil a quem se compromete a alocar seu suado dinheirinho nelas.

O que é investir? Correndo o risco de parecer simplista, seria destinar capital a determinadas empresas, apostando em seu crescimento futuro, quando então os lucros alcançados seriam compartilhados. Investe bem quem escolhe bem as empresas para aplicar seu dinheiro. Figuras como Benjamin Graham, Philip Fisher e Warren Buffett ganharam rios de dinheiro e atingiram o status de deuses do mercado financeiro através de seus investimentos.

Mas mortais como eu e você, caro leitor, podem aprender a investir de verdade e a conquistar lucros decentes sem ter de se submeter ao, no mínimo suspeito, esquema de pirâmide. Através dele, criam-se empresas que às vezes nem possuem um produto palpável a oferecer para clientes e cuja sobrevivência depende da entrada de cada vez mais pessoas no negócio. E o pior disso tudo é que a população embarca nessa, abalando e crente de estar fazendo um baita de um investimento. Definitivamente, isso não é investir; é especular. E aí o buraco é mais embaixo.

Dinheiro não brota em árvore. Para ele chegar nas mãos de alguém facinho-facinho, como prometem essas empresas, deve sair facinho-facinho das mãos de um outro alguém. Nas empresas que funcionam no esquema de pirâmide, quem está próximo ao topo tende a receber uma boa grana no fim do mês e, enquanto isso estiver acontecendo, os "topistas" ficarão contentes por fazer parte dessa empresa e por ter realizado tal "investimento".

Mas de onde vem o dinheiro do pessoal do topo? Vem dos que estão na base da pirâmide: os "basistas". Enquanto o dinheiro flui freneticamente para suas contas, os "topistas", geralmente pessoas mais esclarecidas, mais bem-relacionadas, melhor graduadas, fazem verdadeiras romarias, principalmente pelo interior dos Estados (óbvio: quanto mais distante dos centros urbanos, menor é o grau de instrução populacional, logo maior será o grau de convencimento dessa gente) em busca de novos "basistas" dispostos a pingar um pouquinho mais em suas contas.

E como é fácil arrancar dinheiro do povo brasileiro. É que manipular fica mais simples em meio à ignorância. E quando não houver mais "basistas" recém-ingressados, o fluxo monetário ascendente será extinto, e aquela pirâmide que outrora parecera ter sido construída com rígidos blocos de concreto, provará ter sido erguida com a mais delicada e fina das areias e se desfará ao sopro da mais leve brisa.

Ganhar dinheiro é bom. Sim, muito bom! O problema é quando dinheiro deixa de ser "uma" prioridade e passa a ser "a" prioridade do indivíduo. Nessas situações, a fronteira entre a ética e a antiética pode ser facilmente rompida. Quem detém conhecimento, detém poder - e é preciso cuidado para não se aproveitar dessa situação. Não são raros os casos de pessoas que se desfazem de bens valiosos, como casas e carros, na vã esperança de auferir os lucros formidáveis prometidos, e posteriormente se veem em maus lençóis porque as promessas não se concretizaram.

A educação formal é deficiente no Brasil. Nessa constatação, enquadra-se também a educação financeira. Enquanto o governo não corrige isso, o que pode demorar bastante para acontecer, por que não fazer como os americanos, que desenvolveram a conta 401(k), na qual o dinheiro do Imposto de Renda de empregados fica retido por anos a fio para investimento no mercado financeiro? Quando param de trabalhar, o montante investido retorna aos cofres do governo, enquanto o lucro das aplicações vai para o bolso dos recém-aposentados, sem nenhum desconto fiscal, gerando possibilidade de uma aposentadoria digna. Alternativas sempre há. Basta disposição para tocá-las adiante. E deixemos o título de maior produtor mundial de pirâmides com o Egito.

[*] É médico. — em Jornal Cinform

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