terça-feira, 16 de dezembro de 2014

RUÍDO QUE LISONJEIA


* Por Madalena de Jesus

Esse texto foi postado em 6 de fevereiro de 2010. 
Hoje me dei  conta de como ele continua atual.

Quando eu digo que não tenho o dom de escrever artigos e/ou crônicas, os amigos jornalistas não levam a sério. Alguns até pensam, eu bem sei, que é uma estratégia para estimular elogios. Pensamento, aliás, permitido apenas aos que não são verdadeiramente meus amigos. Mas, creiam, é a mais pura verdade. Eu realmente não domino as técnicas para elaborar esse estilo, que deve ter elementos atrativos para o leitor e, ao mesmo tempo, demonstrar um nível de conhecimento pelo menos satisfatório sobre a questão abordada.

Talvez devido a esta minha incapacidade eu sinta-me constrangida diante de alguns textos que, confesso, não tenho coragem de inserir em nenhum dos gêneros citados. Em minhas leituras de jornais, revistas, sites e blogs chego a ficar estarrecida diante de verdadeiros crimes contra o que há de mais sério no exercício do jornalismo: o tratamento da informação. Fala-se tanto em abuso de poder e o que vemos/lemos diariamente mostra que há um excessivo uso da palavra escrita, esta maravilhosa conquista da humanidade. Beira o abuso.

Imaturidade? Revolta? Falta do que fazer? Sinceramente não sei como definir a atitude de profissionais de comunicação que arrotam intolerância e pedantismo em forma de palavras. Algumas muito bem escolhidas. Bonitas até, mas que não dizem absolutamente nada. Vale ressaltar que este despretensioso comentário não é direcionado a uma pessoa específica e sim a todas aquelas que, de uma hora para outra, encontraram a oportunidade de escrever para um grande público leitor e não se dão conta da responsabilidade desta tarefa.

Não quero, de forma alguma, dizer como se deve - ou não - fazer jornalismo. Longe de mim atitude tão autoritária. Mas em três décadas de atuação na área, juro que nunca vi tanto texto mal escrito, tanta crítica infundada, tanta coisa sem pé nem cabeça ocupando os espaços da mídia. Enfim, nunca tanta gente escreveu tanta bobagem por estas plagas. E, no caso específico dos blogs, podem ser inseridos na lista de autores textuais mal informados e raivosos os leitores que, escondendo-se atrás de pseudônimos ridículos fazem comentários idem.

Tanta arrogância literária faz lembrar o maior escritor brasileiro de todos os tempos. Motivos não lhe faltaram para subir ao mais alto degrau do convencimento. Mas, ao contrário, procurou manter sempre a humildade típica dos que muito sabem. Lá pelos idos de 1872, ao apresentar o primeiro romance da carreira (Ressurreição) ao público e à crítica, Machado de Assis já ensinava: “Cada dia que passa me faz conhecer melhor o agro destas tarefas literárias - nobres e consoladoras, é certo -, mas difíceis quando as perfaz a consciência”.

Machado diz ainda que no extremo verdor dos anos presumimos muito de nós e que cabe ao tempo diminuir tamanha confiança e deixar apenas o que é indispensável ao homem, que é a capacidade de reflexão. Ele inclui no tempo a condição do estudo, “sem o qual o espírito fica em perpétua infância”. Ou seja, o tempo é um bom mestre, mas a cada um de nós cabe uma parte a ser feita na construção do próprio conhecimento. E foi nos ensinamentos do jornalista que tornou-se um cânone da literatura universal que encontrei esta valiosa advertência, que vale para todos, mas tem um significado especial para os iniciantes:

"Aplausos, quando os não fundamenta o mérito, afagam certamente o espírito, e dão algum verniz de celebridade, mas quem tem vontade de aprender e quer fazer alguma coisa prefere a lição que melhora ao ruído que lisonjeia".

Bom, diante de tamanha sabedoria, dizer mais o que?

* Madalena de Jesus é jornalista, radialista, professora graduada em Letras com Francês e pós-graduada em Docência do Ensino Superior

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

FESTIVAL DE CULTURA NACIONAL NO NATAL ENCANTADO




Musical Puro Brasileiro, de Goiânia, será uma das atrações do primeiro dia

Nada menos que sete estados brasileiros, além da Bahia e Distrito Federal, estarão representados em Feira de Santana durante a programação do Natal Encantado, de 10 a 23 de dezembro. Durante 14 dias, as mais diversas manifestações culturais serão mostradas através da música, da dança e do teatro, transformando a cidade em palco para um grande festival da cultura nacional.

O Musical Puro Brasileiro, de Goiânia (GO), será uma das atrações do primeiro dia do evento. No dia 11 haverá apresentações da Orquestra Sinfônica de Aracaju (SE) e do Coral da Sorte, de Brasília (DF), com os espetáculos teatrais Segura Mamãe e Mago Trevo. A Família Lima, de São Paulo (SP) fará show dia 15.

O Recital Lírico da Escola de Música do Estado de São Paulo (EMESP) será uma das atrações do dia 17 e ainda desse estado, o concerto de piano de Eudóxia de Barros, dia 18. Outro concerto de piano promete atrair um grande número de pessoas, no último dia da programação, 23. Trata-se da apresentação de Arthur Moreira Lima, de Florianópolis (SC).

O público que for à Praça da Igreja Matriz no dia 17 terá a oportunidade de conhecer o Spok Freo Orquestra, de Recife (PE). No dia 18 será a vez da Orquestra Sanfônica Balaio do Nordeste, de João Pessoa (PB). Enquanto isso, de Minas Gerais virão a Orquestra Sinfônica de Ouro Preto, com o espetáculo The Beatles, e Giramundo Teatro de Bonecos, apresentando o Auto das Pastorinhas, dias 20 e 21.  

Da Bahia, a programação do Natal Encantado inclui diversas atrações de Feira de Santana e da capital, além de municípios de várias regiões do Estado, a exemplo de Monte Santo, Nordestina, Jacobina, Cachoeira, Maragogipe, Itiúba, Santa Bárbara, Água Fria, Irará, Santo Estevão, Conceição do Jacuípe, Jeremoabo, Euclides da Cunha, Araci, Serrinha e Conceição do Coité.

Madalena de Jesus
Texto publicado originalmente no site da Prefeitura Municipal de Feira de Santana

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

EM QUALQUER LUGAR



Getúlio Andrade: Feirense há 50 anos, fez de seu estabelecimento um espaço cultural.


Antigamente cultura era teatro, templos fechados. Hoje se faz cultura em qualquer lugar. Com essa visão, o empresário Getúlio Andrade fez do seu restaurante um espaço aberto aos eventos culturais. Mas não só isso, com viés social. Ele acha mesmo que não é responsabilidade restrita aos órgãos públicos a promoção da cultura e da arte de modo geral.

Imagine se cada bairro de Feira de Santana realizasse a sua própria Feira de Cultura? E por meio dessa iniciativa inibir a violência? É isso que ele está viabilizando no bairro Capuchinhos há cinco anos e já tem exemplos de ideias similares em outros locais. “O artista Herivelton Figueiredo está fazendo exposições de arte no bairro onde mora”, conta Getúlio, entusiasmado.

A inclusão social também pode se dá através da cultura. Por isso, Getúlio Andrade não pensou duas vezes para firmar parceria com a AAPC, entidade que presta assistência a pessoas com câncer, para a realização de bazar beneficente. “Esse viés social dá uma conotação especial à ação”, define o empresário de 64 anos de idade, nascido na cidade de Teodoro Sampaio e que se tornou feirense há 50 anos.

Com o sugestivo nome de Casa do Sertão, o restaurante de Getúlio é palco também para o Encontro de Cachaça e ponto de concentração do irreverente Bloco Tracajá, que reúne profissionais de comunicação e lideranças políticas durante a Micareta. Para ele, cultura é simples assim. “Todo mundo pode fazer”. E pode mesmo.

Madalena de Jesus

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

PELA PORTA DA FRENTE



Lourdes Santana: Polêmica, ela é referência na luta pela cultura negra.

Quem conhece um pouco que seja do movimento negro, com certeza conhece Lourdes Santana. Aquela do concurso de Beleza Negra, das sessões especiais da Câmara de Vereadores, dos projetos que viraram lei, dos eventos para despertar a consciência negra e do Odungê – Núcleo Cultural, Educacional e Social. É ela, Lurdinha, conhecida pelo jeito briguento de ser, que agora preside o
Conselho Municipal de Participação e Desenvolvimento de Comunidades Negras.

“O nome é grande, porque a atuação é abrangente”, diz Lurdinha, explicando que o colegiado envolve não somente o negro, como índio, cigano e albino. E em Feira de Santana essa grandeza da denominação faz jus ao trabalho realizado. “Hoje muitas ações que envolvem a questão social são viabilizadas por meio do conselho”, ressalta, citando a campanha contra o preconceito racial, promovida pela Secretaria Municipal de Prevenção à Violência e Promoção dos Direitos Humanos (Seprev).

Na saúde, segundo ela, também já conta com um departamento que trabalha voltado para a população negra, principalmente com relação à anemia e ao glaucoma, com algumas clínicas parceiras inclusive fazendo mutirões. Mas o ponto alto mesmo é a cultura. “Nós tivemos dois secretários que se importaram de verdade com a cultura negra em Feira de Santana, Armando Sampaio (no governo do ex-prefeito Colbert Martins da Silva) e agora Jailton Batista”, afirma.

Com relação à atual gestão da Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer, Lurdinha lamenta que ainda não haja o retorno ideal por parte das entidades para as ações implementadas. Um exemplo foi o Novembro Negro, onde os grupos que se apresentavam nem sequer esperavam a próxima atração. “É uma pena ver que alguém se propõe a mostrar a negritude de Feira de Santana de forma bonita e harmoniosa e esse trabalho não tem resposta”, lamenta.

Afirmando que nesses 40 anos de participação no movimento aprendeu a criticar o errado e aplaudir o correto, Lurdinha diz  que a sua briga constante é pelo negro e garante: se tiver outra vida, quer voltar negra, feirense e ter oportunidade de continuar esse trabalho.

Um orgulho: Ter entrado no movimento negro “pela porta da frente”, pelas mãos de Gilsan (pedagogo, cantor e seu irmão), Nilson Rasta, Nunes Natureza, Antônio Anunciação, Dionorina, Cristina, Jorge de Angélica... Ela lembra que já na primeira reunião foi definida a realização do Beleza Negra, concurso que ganhou destaque na cidade.

Uma realização: O Odungê. Hoje Lurdinha é conhecida em várias partes do Brasil, especialmente em Brasília, por conta dos projetos do núcleo que dirige.  “A entidade é uma marca forte e lá (na capital federal) eu sou conhecida como Lourdes do Odungê”, conta. O nome foi criado por Carlos Lima e quer dizer o dom da prosperidade. “E o Odungê abre portas, cria oportunidades. Esse é o nosso objetivo maior”, ressalta.

Um arrependimento: Não ter ido à África, quando foi convidada por Nelson Mandela.

Madalena de Jesus

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

PAIXÃO POR QUADRILHAS


Vilma Soares: Defensora da preservação da dança que virou manifestação cultural.


Mais do que uma dança bonita emoldurada por trajes coloridos e músicas alegres, a quadrilha junina é uma manifestação cultural que ao longo do tempo deixou de ser apenas um atrativo nas festas do mês de junho. Ganhou status de espetáculo! Essa é a motivação de Vilma Soares, quadrilheira por paixão e convicção, que a cada dia se destaca na defesa dessa tradição que veio da Europa e nunca mais saiu da Bahia.

Aliás, paixão é o combustível que Vilma usa para dar conta de tudo que se propõe a fazer. Para se ter uma ideia, ela preside uma associação de bairro (Chácara São Cosme, onde mora), cuida da apresentação dos grupos de  quadrilha e há 10 anos dirige o bloco Folia Caipira, que anuncia os festejos juninos durante a Micareta de Feira de Santana. E advinhem o que vem sempre à frente do bloco na avenida?Uma quadrilha junina, claro.

O Dia Nacional do Quadrilheiro – 27 de junho, data criada por meio da lei 12.390/11 – é uma das conquistas dos defensores do movimento de preservação da cultura junina. E motivo de comemoração, em praça pública, com desfiles que chamam a atenção pela beleza, seja pela harmonia da dança em duplas repetindo movimentos ao som de comandos herdados da língua francesa como anavantu (en avant tout, todos para a frente) e anarriê (en arrière), que significa voltar– seja pelo figurino, quase sempre extravagante.

Aliás, o figurino é um destaque à parte na apresentação dos grupos. Por isso, há alguns anos Vilma criou um novo motivo para colocar o quadrilheiro em evidência. Os amantes desse movimento e curiosos podem ver peças selecionadas em exposições anuais realizadas no Museu Parque do Saber, sempre sob o olhar orgulhoso de Vilma. “A quadrilha hoje faz parte de nossa cultura”, atesta a líder comunitária.

Madalena de Jesus

terça-feira, 14 de outubro de 2014

A CULTURA NOSSA DE CADA DIA



Jailton Batista: Humanizar as pessoas por meio da cultura.






Dizem que toda unanimidade é burra. Não sei exatamente de onde saiu essa história. Mas há controvérsias, principalmente quando a questão é a cultura de Feira de Santana. O fato é que o segmento deu um salto de 2013 para cá. As portas da casa foram escancaradas desde que o jornalista, escritor e empresário Jailton Batista assumiu a Secretaria Municipal de Cultura, Esporte Lazer. Foi estabelecido, de fato, o diálogo com a classe artística.

Ao longo de sua história a Secel realizou eventos pontuais e garantiu apoio a outros tantos. Micareta, São João, São Pedro e Expofeira figuram entre as festas de grande porte, que absorviam o trabalho e os recursos da pasta. Elas permanecem, com mudanças, é claro. Para melhor, dizem uns; nem tanto, avaliam outros. Os pequenos eventos também passaram a ter tratamento diferenciado.

Mas o grande mérito da atual gestão da Secretaria de Cultura não reside em realizar pequenos ou grandes eventos. Fazer funcionar em toda sua plenitude o Conselho Municipal de Cultura é ação que merece citação. “Teremos um Plano Municipal de Cultura para os próximos 10 anos”, anuncia o secretário Jailton Batista. Trabalho do conselho, todo mundo ali quietinho, se reunindo uma vez por mês – ou mais, caso seja necessário – formando comissões de estudo.

A valorização da cultura passa por uma série de projetos. Como o Festival Samba de Roda, Samba de Todos, que reuniu grupos de Feira de Santana e Região em seminários, ações em escolas da rede municipal e apresentações em praça pública. Ou o Novembro Negro, que promoveu uma semana de atividades ligadas à cultura negra, de shows musicais a exposições de arte, também aberto à comunidade.

O Natal Encantado, realizado pela primeira vez e cuja segunda edição já está totalmente organizada, foi um marco na história recente de Feira de Santana. “Vimos pessoas da periferia assistindo concertos musicais e espetáculos de dança e teatro de alta qualidade”, lembra Jailton. O projeto contemplou a população feirense e visitantes com atividades culturais de todas as modalidades espalhadas em vários pontos da cidade.

O projeto Acordes, que leva música para as escolas por meio de parcerias com a iniciativa privada e o apoio da Secretaria Municipal de Educação,  também vem tendo ressonância junto à comunidade. A proposta, nesse segmento, é formar uma orquestra infanto juvenil. “Uma cidade que cresce na cultura humaniza as pessoas”, aposta o secretário Jailton Batista.

Madalena de Jesus

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

TUDO PELO FLUMINENSE

Carlinhos do Megafone: Amor incondicional pelo clube de futebol feirense.


O megafone  é um aparelho em forma de cone, utilizado para amplificar sons em manifestações, eventos esportivos e anúncios. Nos filmes, normalmente aparece nas mãos de policiais ou bombeiros para comunicação à distância. Em Feira de Santana ele é mais que isso, é uma espécie de amuleto que o marceneiro Luís Carlos Maia Santos carrega consigo há anos, para fazer ecoar seus gritos de torcedor do De euforia e comemoração em alguns momentos; de desespero e crítica em outros.

Ligado em futebol “desde sempre”, como costuma dizer, Carlinhos do Trombone (apelido que ganhou por razões óbvias) jogava na escolinha do Fluminense e aí está explicada toda essa paixão, que só divide com o Flamengo, a sua seleção. “Meu fluminense é o time do coração”, afirma emocionado, destacando que é a sua maior referência de lazer e esporte desde menino.

“Toda cidade grande tem que ter um time grande e o Fluminense é uma grande marca”, diz o torcedor, que se define como apaixonado – não fanático. O que falta, então? “Falta pulso, uma pessoa que chegue lá e diga: vamos colocar o Fluminense onde ele merece estar”, responde sem pestanejar. Para ele, o clube deveria estar na primeira divisão. “Tem times menores de cidades do sul do país que estão lá”, comenta.

A primeira divisão é para almejar. Por enquanto, o Flu de Feira está na segundona, o que para um torcedor tão fiel “está de bom tamanho”. Mesmo que para isso seja preciso gritar muito. E é exatamente isso que Carlinhos faz nos jogos do seu time, seja em Feira de Santana, em outras cidades ou até em outros estados. Tanto que muitas vezes perdeu a voz, literalmente, após as partidas mais difíceis.

Foi aí que, um belo dia, ele fazia um trabalho de marcenaria na casa do cantor Paulo Bindá e viu um megafone pequeno, jogado em um canto. “Pedi a ele e disse: só assim agora eles vão me ouvir”. Dito e feito. A partir de então – isso foi há uns 25 anos – ele se tornou pioneiro em frequentar estádio de futebol com um megafone. Virou atração e chamou a atenção da mídia. Tomou gosto e comprou um equipamento maior e o megafone se tornou marca.

Carlinhos do Megafone foi tema do noticiário esportivo nacional e acabou se tornando amigo da imprensa esportiva feirense, mas assegura que nunca teve a intenção de aparecer. “É o Fluminense é que deve estar em evidência”, resume. Ele já foi chamado para eventos e até para participar de campanhas políticas. Já tentaram afastá-lo do Joia da Princesa (Estádio Alberto Oliveira), mas foi em vão.

E ele continua lá. De forma pacífica, sugere alterações no time, conversa com o treinador, chama a atenção de todos. E, principalmente, vibra pelo time. Apesar de afirmar que existe “muita coisa errada”, o amor pelo Fluminense continua inabalável. “Isso não vai mudar nunca”, garante o torcedor, em alto e bom tom, mesmo sem o auxílio do megafone.

Madalena de Jesus

domingo, 12 de outubro de 2014

"AMISTAD" E O NORTE/NORDESTE BRASILEIRO




Acabo de assistir ao filme Amistad, baseado em fatos reais, do diretor Steven Spielberg com roteiro de David Franzoni. A sinopse do filme é a seguinte: Costa de Cuba, 1839. Dezenas de escravos negros se libertam das correntes e assumem o comando do navio negreiro La Amistad. Eles sonham retornar para a África, mas desconhecem navegação e se veem obrigados a confiar em dois tripulantes sobreviventes, que os enganam e fazem com que, após dois meses, sejam capturados por um navio americano, quando desordenadamente navegaram até a costa de Connecticut.

Os africanos são inicialmente julgados pelo assassinato da tripulação, mas o caso toma vulto e o presidente americano Martin Van Buren (Nigel Hawthorn), que sonha ser reeleito, tenta a condenação dos escravos, pois agradaria aos Estados do Sul e também fortaleceria os laços com a Espanha, pois a jovem Rainha Isabella II (Anna Paquin) alega que tanto os escravos quanto o navio são seus e devem ser devolvidos.

Mas os abolicionistas vencem, e o governo apela e a causa chega a Suprema Corte Americana. Este quadro faz o ex-presidente John Quincy Adams (Anthony Hopkins), um abolicionista não assumido, sair da sua aposentadoria voluntária, para defender os africanos.

Mas o que tem a ver uma história de 1839, nos Estados Unidos, com o Norte/Nordeste do Brasil?
A resposta é o segundo turno das eleições presidências entre os candidatos Dilma Rousseff e Aécio Neves. Existem grupos de eleitores que, diante da disputa eleitoral, estão demonstrando, por meio das redes sociais, todo o sentimento de raiva, racismo, preconceito e repulsa a essas duas regiões e seus habitantes, como se nós fôssemos as sub-raças que Adolf Hitler tanto pregou e levou o mundo a Segunda Grande Guerra.

Para se ter uma ideia dos absurdos, um grupo que se declara profissionais da classe médica, com quase cem mil seguidores, denominados de “Dignidade Médica”, defende a castração química dos nordestinos e nortistas e até mesmo o holocausto dos moradores das regiões Norte e Nordeste do País. Já outros defendem a construção de muros separando Norte e Nordeste do Sul, Sudeste e Centro-Oeste.

Será que uma disputa eleitoral dentro dos princípios democráticos deve dividir um país e fazer com que irmãos desconheçam irmãos? Será que a melhoria na qualidade de vida dos habitantes dessas regiões, o acesso ao ensino superior e tecnológico, a uma melhor moradia e uma melhor distribuição de renda nessas regiões do Brasil, que por muitos anos foram esquecidas, pode gerar tanta raiva ao ponto de se pregar uma segregação?

Não muito distante, em Feira de Santana, um outro grupo de médicos procura casa em bairro nobre da cidade para abrir um Comitê Pró Aécio Neves. É um direito que o assiste, e temos que respeitar. Mas não seria mais prudente se esse mesmo grupo alugasse uma casa em um dos bairros carentes da cidade e lá dedicasse uma pequena parte de seu precioso tempo para atender seus moradores e através de seu trabalho “comunitário” fizesse sua política partidária?
Vale lembrar que boa parte desses senhores médicos estudou em instituições públicas bancadas com o dinheiro de todo brasileiro de todas as cinco regiões do País.

Eleição não é para dividir. O futuro presidente será presidente de todo o Brasil, de todos os brasileiros. Que, no próximo dia 26, cada um seja um pouco John Quincy Adams e que esse país realmente seja uma República Federativa. Pois, como disse o ex-presidente Getúlio Vargas, em sua carta testamento “Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém”.

Viva o Brasil. Viva o povo brasileiro.


Cláudio Rodrigues
Consultor de Vendas 

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

FRAGMENTOS DE MINHA TERRA







Minha terra não é moça,
minha terra é menino,
que atira badogue
que mata mocó,
que arma arapuca
e sabe aboiar
e nada nos rios em tempo de cheia
e come umbu quente e não apanha malina...
Minha terra é menino
é um vaqueirinho
vestido de couro...

(Eurico Alves)

terça-feira, 16 de setembro de 2014

SUBIDA DA GAMBOA, O NOVO CD DE BETO PITOMBO



Para quem gosta de samba baiano e brasileiro da melhor qualidade, uma boa pedida é o  CD  Subida da Gamboa, do compositor e cantor Beto Pitombo. O novo disco traz entre outras composições o samba “Quina do Rodapé”, que ganhou o prêmio de melhor música com letra do XI Festival de Música da Rádio Educadora da Bahia, com participação especialíssima de Mateus Aleluia e de J Veloso na composição “Saudade.”

Nesse trabalho, que será lançado dia 19 de setembro, no Centro Universitário de Cultura e Arte (Cuca), o compositor feirense mergulha na essência do samba desde suas origens nos canaviais da Bahia. E, em forma de homenagem, pede passagem a dois dos mais geniais criadores do gênero: o baiano Caymmi e o carioca Cartola.

O CD foi preparado nos últimos três anos, com recursos próprios para a gravação. A finalização (vocal, voz definitiva, edição, mixagem, capa e prensagem) contou com o apoio do Fundo de Cultura do Estado da Bahia. Das 12 faixas que compõem o disco, apenas uma é instrumental, “Caldeirão sem Tampa”, uma parceria com Kito Matos ao violão.

A ficha técnica reúne Silvana Kobe - Produção Executiva; Ricardo Markis - Produção Musical; Bráulio Barral - Direção Musical; Alê Siqueira e Sebá Notini – Edição; Flávio Souza - Mixagem; e Carlos Freitas (Classic Master) – Masterização. O material gráfico é da OK Propaganda e a gravação do Estúdio Som das Águas.

A banda que acompanha Beto Pitombo é formada por André Luba - baixo; Ricardo Markis - bandolim; Kito Matos - violão; Mizael - bateria; Ênio - percussão e Ivan Sacerdote - clarinete.

Trajetória

Beto Pitombo iniciou a carreia musical nos anos 60 formando, ao lado de Pepeu Gomes e Jorginho Gomes, o conjunto musical “Os Laifs”. Mais tarde, atuou na banda “Os Trogloditas”, de Feira de Santana. A partir dos anos 70 iniciou carreira solo compondo, participando de festivais, tocando em shows por todo o Estado da Bahia e gravando discos independentes.

Dentre os seus trabalhos editados estão “Prata da Casa”, LP, 1983, participação especial de Sivuca; “Beco do Mocó”, LP, 1986, participação especial de Sivuca e Carlinhos Brown; “Pra Ver clarear”, LP, 1990;  “Estrada Velha”, CD, 2004 e “Subida da Gamboa”, CD, 2014.

Festivais

Noite do Samba – 1973 - 5º lugar com o samba “Não me queira mal”, cujo vencedor foi Ederaldo Gentil com “O ouro e a madeira”.
Festival Universitário da Bahia - 1975 - 1º lugar com a música “Pau de Cerca”.
6º Festival da Rádio Educadora da Bahia (2008)- a música “Eu sou baiano” ficou entre as 50 classificadas.
8º Festival da Rádio Educadora da Bahia (2010)- a música “Couro de Cobra” fica entre as 14 finalistas e integra o CD do festival.
9º Festival da Rádio Educadora da Bahia (2011)- a música “Subida da Gamboa” fica entre as 14 finalistas e integra o CD do festival na interpretação de Marilda Santana.
10º Festival da Rádio Educadora da Bahia (2012)- a música “Saveiro” ficou entre as 50 classificadas.
11º Festival da Rádio Educadora da Bahia (2013)- a música “Quina do Rodapé”
ganha o prêmio de melhor música com letra.


quarta-feira, 13 de agosto de 2014

RECEITA DE FAMÍLIA NÃO SE COPIA, SE INVENTA






"Família é prato difícil de preparar. São muitos ingredientes. Reunir todos é um problema...Não é para qualquer um. Os truques, os segredos, o imprevisível. Às vezes, dá até vontade de desistir...Mas a vida... sempre arruma um jeito de nos entusiasmar e abrir o apetite. O tempo põe a mesa, determina o número de cadeiras e os lugares. Súbito, feito milagre, a família está servida. Fulana sai a mais inteligente de todas. Beltrano veio no ponto, é o mais brincalhão e comunicativo, unanimidade. Sicrano, quem diria? Solou, endureceu, murchou antes do tempo. Este é o mais gordo, generoso, farto, abundante. Aquele, o que surpreendeu e foi morar longe. Ela, a mais apaixonada. A outra, a mais consistente...

Já estão aí? Todos? Ótimo. Agora, ponha o avental, pegue a tábua, a faca mais afiada e tome alguns cuidados. Logo, logo, você também estará cheirando a alho e cebola. Não se envergonhe de chorar. Família é prato que emociona. E a gente chora mesmo. De alegria, de raiva ou de tristeza. Primeiro cuidado: temperos exóticos alteram o sabor do parentesco. Mas, se misturadas com delicadeza, estas especiarias, que quase sempre vêm da África e do Oriente e nos parecem estranhas ao paladar tornam a família muito mais colorida, interessante e saborosa. Atenção também com os pesos e as medidas. Uma pitada a mais disso ou daquilo e, pronto: é um verdadeiro desastre. Família é prato extremamente sensível. Tudo tem de ser muito bem pesado, muito bem medido.

Outra coisa: é preciso ter boa mão, ser profissional. Principalmente na hora que se decide meter a colher. Saber meter a colher é verdadeira arte. Uma grande amiga minha desandou a receita de toda a família, só porque meteu a colher na hora errada. O pior é que ainda tem gente que acredita na receita da família perfeita. Bobagem. Tudo ilusão. Não existe Família à Oswaldo Aranha; Família à Rossini, Família à Belle Manière; Família ao Molho Pardo (em que o sangue é fundamental para o preparo da iguaria). Família é afinidade, é à Moda da Casa. E cada casa gosta de preparar a família a seu jeito. Há famílias doces. Outras, meio amargas. Outras apimentadíssimas. Há também as que não têm gosto de nada, seria assim um tipo de Família Dieta, que você suporta só para manter a linha. Seja como for, família é prato que deve ser servido sempre quente, quentíssimo. Uma família fria é insuportável, impossível de se engolir.

Enfim, receita de família não se copia, se inventa. A gente vai aprendendo aos poucos, improvisando e transmitindo o que sabe no dia a dia. A gente cata um registro ali, de alguém que sabe e conta, e outro aqui, que ficou no pedaço de papel. Muita coisa se perde na lembrança. Principalmente na cabeça de um velho já meio caduco como eu. O que este veterano cozinheiro pode dizer é que, por mais sem graça, por pior que seja o paladar, família é prato que você tem que experimentar e comer. Se puder saborear, saboreie. Não ligue para etiquetas. Passe o pão naquele molhinho que ficou na porcelana, na louça, no alumínio ou no barro. Aproveite ao máximo. Família é prato que, quando se acaba, nunca mais se repete."

Trecho do livro "O Arroz de Palma" de Francisco Azevedo. 

segunda-feira, 28 de julho de 2014

MORTE E VIDA SEVERINA



-




- O meu nome é Severino,
como não tenho outro de pia.
Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Severino de Maria;
como há muitos Severinos
com mães chamadas Maria,
fiquei sendo o da Maria
do finado Zacarias.
Mas isso ainda diz pouco:
há muitos na freguesia,
por causa de um coronel
que se chamou Zacarias
e que foi o mais antigo
senhor desta sesmaria.
Como então dizer quem fala
ora a Vossas Senhorias?
Vejamos: é o Severino
da Maria do Zacarias,
lá da serra da Costela,
limites da Paraíba.
Mas isso ainda diz pouco:
se ao menos mais cinco havia
com nome de Severino
filhos de tantas Marias
mulheres de outros tantos,
já finados, Zacarias,
vivendo na mesma serra
magra e ossuda em que eu vivia.
Somos muitos Severinos
iguais em tudo na vida:
na mesma cabeça grande
que a custo é que se equilibra,
no mesmo ventre crescido
sobre as mesmas pernas finas,
e iguais também porque o sangue
que usamos tem pouca tinta.
E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte,
de fome um pouco por dia
(de fraqueza e de doença
é que a morte severina
ataca em qualquer idade,
e até gente não nascida).
Somos muitos Severinos
iguais em tudo e na sina:
a de abrandar estas pedras
suando-se muito em cima,
a de tentar despertar
terra sempre mais extinta,
a de querer arrancar
algum roçado da cinza.
Mas, para que me conheçam
melhor Vossas Senhorias
e melhor possam seguir
a história de minha vida,
passo a ser o Severino
que em vossa presença emigra.

Trecho do Auto de Natal Pernambucano, de
João Cabral de Melo Neto

sexta-feira, 25 de julho de 2014

NA ESCOLA OU NA RUA, A MAGIA DO SAMBA DE RODA












Escola é o lugar onde aprendemos a ler e escrever. Certo? Errado. Na escola é possível aprender muito mais, inclusive sambar ou quem sabe até ensaiar alguns toques no pandeiro, esse instrumento mágico que comanda os demais e garante a cadência do ritmo mais popular do Brasil. E como as crianças aprenderam com o projeto Samba de Roda, Samba de Todos! Foram cinco escolas, apenas. O suficiente para plantar a semente que será regada por uma nova geração de meninos e meninas.

Outra grande lição deixada pelo projeto foi que o samba não é apenas um gênero musical, mas identidade cultural .  E isso foi dito repetidas vezes por todos os palestrantes que participaram do seminário e das mesas redondas realizadas. Bonito de se ver mesmo, nesse período, foi a academia chegar bem perto das comunidades e dizer: olha, isso que vocês fazem aqui é nosso objeto de estudo. Não é à toa que o samba de roda é reconhecido como patrimônio da humanidade.

E os sambadores e sambadeiras lá, do alto de toda a sabedoria popular, encerravam cada apresentação teórica sobre aquilo que eles sabem de cor fazendo o que sabem e gostam de fazer. Ao som do pandeiro, do tambor, do cavaquinho e do violão, mais a cuíca e o reco reco, eles cantavam e sambavam contagiando a todos. Nessa hora, não existe limite de idade, nem regra estabelecida. Afinal, pode ser samba martelo, chula, coco, não importa, é tudo samba.

Da sala de aula para a rua foi um pulo. Ou melhor, um passo. Melhor ainda, alguns passos. Em praça pública, a da Cidade Nova, o samba de roda ganhou o espaço e o destaque que merece. Um grande palco foi montado para as rodas animadas por grupos de samba de Feira de Santana e de todos os municípios do Portal do Sertão. Cada um do seu jeito, com o seu estilo próprio. Mas todos na mesma batida: a batida do samba de roda. Aquela que entra pelo ouvido, mexe com os pés e o resto do corpo e chega ao coração.

Madalena de Jesus

segunda-feira, 21 de julho de 2014

ESCRITORES E COZINHEIROS



Tenho um sonho que, acho, nunca realizarei: gostaria de ter um restaurante. Mais precisamente: gostaria de ser um cozinheiro. As cozinhas são lugares que me fascinam, mágicos: ali se prepara o prazer. Mas para preparar o prazer, o cozinheiro deve ser psicólogo, um adivinho de desejos, conhecedor dos segredos da alma e do corpo. Mas não sei cozinhar. Acho que é por isso que escrevo. Escrevo como quem cozinha. Minha cabeça é uma cozinha. O cozinheiro cozinha pensando no prazer que sua arte irá causar naquele que come. Eu escrevo pensando no prazer que o meu texto poderá produzir naquele que me lê.

A relação entre cozinhar e escrever tem sido frequentemente reconhecida pelos escritores. É a própria etimologia que revela a origem comum de cozinheiros e escritores. Nas suas origens, sabor e saber são a mesma coisa. O verbo 1atino sapare significa, a um tempo, tanto saber quanto ter sabor. Os mais velhos haverão de se lembrar que, num português que não se fala mais, usava-se dizer de uma comida que ela sabia bem. Saber e experimentar o gosto das coisas: comê-las. O sábio é aquele que conhece não só com os olhos, mas especialmente com a boca. Quem conhece só com os olhos conhece de longe, pois a visão exige distância; muito de perto a gente não vê nada. Quem conhece com a boca conhece de perto, pois só se pode senti gosto daquilo que já está dentro do corpo.

Suspeito que Roland Barthes também tivesse uma secreta inveja dos cozinheiros. Se assim não fosse, como explicar a espantosa revelação com que termina um dos seus mais belos textos, a lição? Confessa que havia chegado para ele o momento do esquecimento de todos os saberes sedimentados pela tradição e que agora o que lhe interessava era "o máximo possível de sabor''. Ele queria escrever como quem cozinha - tomava os cozinheiros como seus mestres. Ele queria ler como quem come uma comida deliciosa.

Mário Quintana também diz do seu sonho de produzir com a escrita, uma coisa que fosse boa de ser comida e trouxesse deleite ao corpo.

Eu sonho com um poema
Cujas palavras sumarentas escorram
Como a polpa de um fruto maduro em tua boca,
Um poema que te mate de amor
Antes mesmo que tu lhe saibas o misterioso sentido:
Basta provares o seu gosto...

A ideia de comer me sugere uma associação deliciosa. Pois comer não se aplica só ao que acontece a mesa. Comer se usa também para descrever o que acontece na cama. Comer e fazer amor. O cozinheiro e o amante são movidos pelo mesmo desejo: o prazer do outro. A diferença está em que o amante oferece o seu próprio corpo para ser comido, como objeto de deleite. O escritor, à semelhança dos amantes, também oferece o seu corpo ao outro, como objeto de prazer. Só que sob a forma de palavra. Cada escritura é uma celebração eucarística: Tomai, comei, isto e o meu corpo...

A leitura tem de ser uma experiência de felicidade. Desejo o prazer do meu leitor. E cada leitor, como o sugeriu Barthes, impõe ao escritor uma condição para seu prazer: "O texto que o senhor escreve tem de me dar prova de que ele me deseja.'' É preciso que as palavras façam amor, como o sugeriu Andre Breton. Por isso que Borges aconselhou aos seus estudantes que eles só deveriam ler os textos que lhes dessem prazer: "Se os textos lhes agradam, ótimo. Caso contrário, não continuem, pois a leitura obrigatória é uma coisa tão absurda quanto a felicidade obrigatória.'' Não se pode comer por obrigação. Não se faz amor por obrigação. Não se pode ler por obrigação.

É este o secreto desejo de cada escritor: o prazer do leitor.

Enquanto viajava liguei o rádio do meu carro e ouvi o anúncio de um curso de leitura dinâmica: a leitura sob o domínio da velocidade. Esta é a última coisa que um escritor pode desejar. Pois o prazer exige tempo. Quem está no prazer não deseja que ele chegue ao fim. Comer depressa, para acabar logo? Fazer amor depressa, para acabar logo? O prazer é preguiçoso. Arrasta-se. Demora. Deseja parar para começar de novo. E depois de terminado, espera pela repetição.

Esta é a razão por que eu gostaria de ser cozinheiro. É mais fácil criar felicidade pela comida que pela palavra... Os pratos de sua especialidade, o cozinheiro os sabe de cor. Já foram testados, provados, gozados. Basta repetir, fazer de novo o que já foi feito. Mas é justamente isto que está proibido ao escritor. O escritor é um cozinheiro que a cada semana tem de inventar um prato novo. Cada semana que começa é uma angústia, representada pelo vazio de três folhas de papel em branco que me comandam: "Escreva aqui uma coisa nova que dê prazer!'' Escrever é um sofrimento. Todo texto prazeroso conta uma mentira. Ele esconde as dores da gestação e do parto. De vez em quando alguém me diz: "Como você escreve fácil!'' Fico feliz. Alguém me confessou o seu prazer no meu texto. Mas sei que esta facilidade só existe para quem lê. O fogo que me queimou ficou na cozinha. Mário Quintana diz que é preciso escrever muitas vezes para que se dê a impressão de que o texto foi escrito pela primeira vez. Sim, para que se dê a impressão... Porque se o sofrimento do escritor aparece, o seu texto terá o gosto de comida queimada.

Por isso que, a cada semana, sinto uma enorme tentação de parar de escrever. Para sofrer menos. Escrever é um cozinhar em que o cozinheiro se queima sempre.

Mas vale a pena ficar queimado pela alegria no rosto de quem come a comida que se fez.

Rubem Alves

quarta-feira, 16 de julho de 2014

MATINHA, TERRA DE SAMBADORES







“Eu nasci com o samba/e no samba me criei/do danado do samba/ nunca me separei”. Os versos melodiosos de Dorival Caymmi bem que poderiam ter sido escritos por um morador do distrito de Matinha. Lá, as crianças nem bem deixaram a chupeta e já estão na roda, dando vida ao antigo ditado “filho de peixe...”. Por isso a terra da Quixabeira é também dos Sambadores do Nordeste, União do Samba e Samba de Quilombo.

E foram os membros de todas as idades dessas “famílias” de sambadores que fizeram a festa na tarde deste quarta-feira, 16, na Escola  Municipal Rosa Maria Espiridião Leite, que sediou as atividades do Festival Samba de Roda, Samba de Todos, realizado pela Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer, em parceria com a Secretaria de Educação. A discussão de hoje foi sobre A Territorialidade do Samba – Portal do Sertão.

“Sou filha do samba, com muito orgulho”, se definiu a adolescente Cleidiane, de 15 anos, antes de entrar na roda e fazer bonito para todo mundo ver. Junto com ela, Aniele Nalanda, de 11 anos e um pouco mais distante Ramon Oliveira, 13, não pouparam animação, sob os olhos da matriarca do samba no distrito, Apolinária das Virgens Oliveira, ou simplesmente Dona Chica do Pandeiro. É que eles fazem parte do grupo Samba de Quilombo, uma espécie de “filho” da Quixabeira.

Mas não é somente a roda de samba que toma a atenção de Dona Chica.  Ouvindo as declarações do palestrante Hygor Almeida, ela balança a cabeça concordando.  “O samba de roda é influenciado por tudo que somos, tem formas diferentes, mas fica tudo igual”, disse o representante territorial de cultura do Portal do Sertão. Ao falar dos símbolos do samba, como a variedade de instrumentos, Hygor defendeu que não há grupo melhor que outro.

Ele falou sobre as diversas formas de manifestação do samba e exemplificou essa pluralidade mostrando, em vídeo, apresentações de grupos de várias cidades do Portal do Sertão, desde o samba de farinhada de Santa Bárbara, e o samba de tocos de Antônio Cardoso ao samba de Lapinha de Santo Estêvão. Hygor citou ainda o samba contemporâneo, em que são introduzidos instrumentos como bateria e baixo, destacando o trabalho da cantora Maryzélia.

A perpetuação do samba através das gerações foi defendida pelo mestre sambador Galdino de Oliveira Souza, Guda, diretor do grupo Quixabeira da Matinha e presidente da Associação de Sambadores e Sambadeias da Bahia (ASSEBA), entidade que conta com o registro de 180 grupos de samba de roda. Ele acredita que isso é possível não somente por meio das famílias, como também através da escola, inclusive com a realização de oficinas de samba de roda e de cultura popular de modo geral.

O festival prossegue quinta-feira e sexta-feira, com atividades nas escolas municipais Ana Maria Alves dos Santos, no Conjunto Feira X, Professora  Olga Noêmia de Freitas Guimarães, no bairro Cidade Nova, respectivamente. Também na Cidade Nova, acontecem as duas grandes rodas de samba que encerram o festival, com a participação de 16 grupos de samba de roda de Feira de Santana e municípios da região. As apresentações estão programadas para sexta-feira, às 17h, e sábado, 10h.

As fotos são de Letícia Sampaio.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

UM OLHAR POSITIVO SOBRE A COPA DO BRASIL



A Copa do Mundo no Brasil tem altos e baixos. Razões para que muitos de nós não desejássemos que aqui fosse realizada não faltaram, como se divulgou amplamente desde que ela foi anunciada para esta pátria amada. Mas, como tudo na vida, há, também, os aspectos positivos deste mundial da bola nos nossos campos. E a essa altura do campeonato, melhor a gente lembrar destes, porque depois do que sofremos hoje, pensar no negativo é desferir um golpe muito forte no coração e ele pode não aguentar.

Então, digo que valeu!

Valeu pelo extraordinário caráter do zagueiro David Luiz, não um ídolo do futebol apenas, mas um brasileiro que merece de todos nós o reconhecimento.

Sim, valeu também por Neymar, que enquanto esteve em campo representou, mesmo sem ter exibido seu brilho máximo, o verdadeiro futebol do nosso país.

Valeu pela recepção maravilhosa do povo brasileiro aos turistas que vieram de tão longe, de tantas nações, e puderam comprovar a hospitalidade, a alegria - mesmo diante de tanta injustiça social -, a honestidade e o companheirismo dos nossos compatriotas.

Valeu pela bela demonstração de civilidade da torcida brasileira presente no Mineirão, que reconheceu a superioridade e excepcional futebol dos alemães, aplaudindo-os mesmo diante de uma goleada tão dolorosa.

Valeu pelo fair play dos jogadores brasileiros. Futebolistas costumam costumam ser violentos quando derrotados. Mesmo sob goleada humilhante, os que sucumbiram perante os alemães souberam perder, sem apelar em nenhum momento para agressões ou para prejudicar o espetáculo.

Valeu pelas ruas enfeitadas de verde amarelo, que coloriram o Brasil e, no Nordeste, fizeram do São João uma festa ainda mais gostosa.

Valeu por ter aproximado mais ainda tantos de nós, nas nossas confraternizações em dias de jogos do Brasil, que celebramos de forma tão saudável e divertida por todo este país.

E valeu, esta Copa no Brasil, por tantas outras razões, que os amigos aqui do face podem enumerar, de acordo com suas convicções.

Por Valdomiro Silva

segunda-feira, 7 de julho de 2014

DE LOCUTOR DE PORTA DE LOJA A NARRADOR DE COPA DO MUNDO






 Paulo Sérgio Coutinho de Freitas, ou Paulo José, como é conhecido. 
Com aproximadamente 30 anos de rádio, PJ já se consolidou como um dos ícones da crônica esportiva, que no vasto currículo está escrevendo mais uma página ao participar da cobertura da Copa do Mundo no Brasil, a segunda,  pela Rádio Sociedade de Feira de Santana. Nesta entrevista o homem que começou como locutor de porta de loja conta como se tornou um consagrado narrador esportivo que coleciona vários feitos, dentre eles a transmissão de uma decisão de Copa do Mundo. 

FOLHA DO ESTADO – O rádio surgiu na sua vida por um acaso, ou o senhor já imaginava um dia trabalhar com a comunicação?

PAULO JOSÉ – Não, de maneira alguma o rádio foi um acaso, mesmo porque, quando a gente ainda é criança, ou mesmo adolescente, já se tem mais ou menos uma ideia de qual a profissão vai exercer e este foi o meu caso. Sempre gostei de jogar futebol e já na minha adolescência, quando ia bater baba com os colegas, lá no bairro Kalilândia, eu muitas vezes deixava de jogar, arrumava um cabo de vassoura e ia para a beira do campo narrar o jogo. Minha referência, naquele tempo era um locutor que trabalhava na Rádio Excelsior da Bahia chamado Paulo José. Eu adorava ouvir as suas transmissões e começa a imitá-lo quando ficava à parte irradiando as peladas. Com o passar do tempo, muitos amigos de baba começaram a dizer “é melhor você narrar do que jogar bola” (risos). Aí foi que realmente eu comecei a perceber o que eu queria para minha vida.

FE – Mas, quando foi que o desejo de ser um comunicador se tornou uma realidade?

PJ – Eu estudei nos colégios Leolinda Barcelar, Oliveira Brito, Agostinho Fróes da Mota e já no começo da juventude fui trabalhar como comerciário. Foi justamente nesta oportunidade que tive de fato o primeiro contato com o microfone, sendo locutor de porta de loja: o gerente do estabelecimento onde eu trabalhava, por nome Belisário, me mandava anunciar os preços dos produtos, as promoções do dia e foi desta maneira que um dia, alguém passou e me viu fazendo locução e me indicou para trabalhar no serviço de auto-falante do meu amigo Antônio Sotero, lá no Alto do Cruzeiro e lá fui eu, ser locutor de serviço de alto-falante que ficava instalado lá no antigo coreto da praça do Cruzeiro. Então o Sotero percebendo o meu dom começou a um levar para a Rádio Fundação de São Gonçalo dos Campos, onde já atuava como radialista e foi justamente lá que eu comecei no rádio e lá também foi onde tive a minha primeira experiência na terceirização porque com pouco tempo, eu fui chamado para fazer parte de um programa terceirizado.

FE – Então pode se dizer que foi um começo complicado no rádio?

PJ – Talvez a palavra “complicado”, seja forte demais. Eu diria que foi difícil, mesmo porque muitas pessoas pensam que é só você ter uma boa voz, ter uma oportunidade, entrar e deslanchar. Isto não é verdade porque nada na vida nada é fácil e eu passei por muitas dificuldades, como por exemplo, de muitas vezes não ter dinheiro para ir para São Gonçalo. A minha mãe, na época era viva, e ganhava vida lavando roupa e muitas vezes tirava um pouco do que ganhava para me dar o valor da passagem para que eu pudesse correr atrás da concretização do meu sonho. Nada é fácil, mas quando você tem perseverança e ajuda das pessoas tudo fica melhor e neste sentido sou muito grato as pessoas que me ajudaram.

FE – Uma vez no rádio, a comunicação esportiva veio de imediato?

PJ – O primeiro contato com o esporte veio através de um convite para trabalhar na antiga Rádio Carioca, hoje Rádio Povo. Na época, o saudoso Marivaldo Bastos tinha uma equipe esportiva e precisava de um plantonista, já que ele e o Jota Alves eram os narradores. Então fui para este desafio, mas achava que não daria muito certo, porém persisti. Depois de uma passagem pela Antares FM (hoje Jovem Pan) vi que o AM era realmente a minha praia e tive oportunidade de ir para a Rádio Cultura e lá passei a fazer parte da equipe esportiva como repórter de pista e exerci esta função por muito tempo. Tive a oportunidade de retornar a Rádio Carioca, como repórter na equipe de Jair Cezarinho e no começo de 1993, por indicação do Rogério Santana fui contratado pela Rádio Sociedade para ser titular na cobertura diária do Fluminense de Feira.

FE – O garoto Paulo José gostava de narrar futebol e uma vez no rádio começou com repórter. Então quando veio de fato a ser narrador esportivo?

PJ – Nas emissoras que trabalhei, sempre tive a oportunidade de narrar esporadicamente, colocando em prática o que eu fazia na época de garoto, me espelhando no Paulo José. Me espelhei tanto, que até meu nome é Paulo Sérgio Coutinho de Freitas, mas adotei o nome de Paulo José em homenagem a minha primeira grande referência de narrador esportivo. Apesar de narrar, ainda me sentia nervoso, inseguro, tinha medo, achava que não daria certo e sempre adiava esta decisão de ser narrador. Porém fui incentivado pelos companheiros Rogério Santana, Jair Cezarinho e Itajay Pedra Branca, que também passaram a ser as minhas grandes referências no rádio, encarei este desafio de ser narrador e graças a Deus, com este meu jeito de ser, me firmei na função, que dentro da crônica esportiva é a mais complicada de fazer e a maior prova disso é que há pouca renovação de narradores esportivos no mercado.

FE – O senhor é conhecido também pelos famosos bordões, como “De rádio pregado no ouvido”, “Arreia, arreia”, “Correndo a sacola”, “Batendo boca de calça”, “Jáaaaa?”, “Acelera, acelera”. Como é que surgem estas ideias?

PJ - (muitos risos) Rapaz é cada coisa que a gente diz, que a gente faz que tem horas que paro e penso “Fui eu mesmo quem falei?”. São coisas que muitas vezes sai assim na hora e que acaba pegando. Por exemplo, o “Arreia, arreia”, é de uma música do Durval Lelys, que ficou na minha mente depois de ter transmitido um carnaval em Salvador. Aí eu vi que as torcidas, quando tinha jogos na Fonte Nova também gritavam isso. Então pensei “Vou lançar isso nas transmissões” e lancei. Não é que pegou? Hoje eu passo nas ruas e o povo grita logo “Arreia PJ” (risos).

FE – Depois de muito e muito tempo, o senhor enfim cobriu uma Copa do Mundo. Como isto aconteceu?

PJ – Eu poderia ter ido a uma Copa do Mundo, bem antes do que eu imaginava. Porém me achava ainda despreparado para fazer a cobertura de um mundial, que de fato é uma marca na história de um cronista esportivo. Em 2010, mesmo com o nome consolidado na narração esportiva, eu ainda eu relutava muito para ir, mas depois da insistência do Dilson Barbosa e do Jorge Bianchi encarei o desafio e fui para a África do Sul. Fizemos um belo trabalho ao lado dos companheiros da Metrópole FM, Edson Marinho, João Andrade e Camila Cintra. Agora estou na segunda Copa do Mundo e há poucos dias tive o privilégio de estar em Fortaleza/CE, no Estádio Castelão, onde ao lado do Rogério Santana, transmiti o empate de 0 x 0 entre Brasil e México. Foi o primeiro jogo que fiz ao vivo no estádio.

FE – Então deve ser uma burocracia muito grande para se fazer uma transmissão destas, não é mesmo?

PJ – Quando fui para a África, fui ao estádio apenas assistir jogos já que nossas transmissões eram feitas no IBC (Centro de Imprensa). É muito dinheiro que se gasta não só para se comprar os direitos de transmissão, mas também para se comprar uma posição de comentarista nos estádios da Copa. São poucos os profissionais que vão ao estádio para transmitir por conta do alto investimento e por isso a maioria das transmissões são feitas nos estúdios. Para mim, foi marcante estar lá, vendo de perto tudo isto e, sinceramente, me arrepio só de lembrar daquele estádio cantando em peso o hino nacional, mesmo com o Brasil fazendo uma campanha de altos e baixos.

FE – Que diferenças, o senhor apontaria entre as Copas da África e do Brasil?

PJ – Muita gente fala disso, mas sinceramente acho que não tanta diferença assim. Se a gente for analisar pelos estádios, não tem nada de diferente e as dificuldades existem, em qualquer lugar, sendo que muitas delas são históricas e não mudam de uma hora para outra. As culturas são diferentes e isso é que deve ser ressaltado porque a gente tem a oportunidade de conhecer outros povos ver coisas que jamais imaginaríamos. Jamais um dia eu pensei de conhecer a África e conheci, me encantei com a alegria deles conheci muito sobre a cultura e a alimentação, embora não me arriscasse muito a comer. Preferia fazer a minha alimentação mais na base de sanduiches do que experimentar as coisas da gastronomia de lá.

FE – Falando nesta parte gastronômica, no rádio, o senhor costuma passar as famosas receitas de bolo. Se o Felipão te ligasse que receita passaria para os jogadores da Seleção Brasileira?

PJ – (risos) Antes de responder esta pergunta esta história de receita é interessante porque num dos aniversários do Dilton Coutinho (apresentador do programa Acorda Cidade), eu lancei a receita de Ki-suco de carambola, além do bolo de abacate com cobertura de chocolate. Não é que isso pegou? Aí começou um monte de gente a ligar para a rádio me pedindo diversas receitas e o negócio tá ficando tão sério, que já me sugeriram lançar o livro “As receitas do PJ” (risos). Para este time do Felipão eu recomendo um bolo de maçã, para relaxar, e um Ki-suco de jenipapo para baixar a pressão porque se a gente for lembrar do jogo com o Chile, foi um verdadeiro teste para cardíaco.

FE – Com duas Copas do Mundo no currículo, podemos então afirmar que o senhor é um profissional realizado completamente?

PJ – Não tenha dúvida disso. Não tenho mais sonhos profissionais a serem realizados porque já fiz tudo que um dia sonhei: fiz Copa América, finais de Campeonatos Baiano, Brasileiro, Libertadores da América, transmiti grandes jogos e até mesmo uma final de Copa do Mundo. O principal sonho que eu tinha que era ser narrador esportivo eu realizei porque, como eu já disse e reitero: dentro da crônica esportiva é a função mais complicada de se fazer e a prova disso é que em Feira de Santana não há uma renovação. Os que estão na ativa já têm muito tempo de rádio, exceto o Valdir Moreira, que veio de Santo Antônio de Jesus, e o Itajay Junior, que já não é tão jovem assim, mas que seguiu os passos do pai, o grande Itajay Pedra Branca.

FE – Por falar nisso, como o senhor se sente vendo o seu filho, Danilo Freitas, seguindo os seus passos investindo na carreira de cronista esportivo?

PJ – (neste momento Paulo José não conteve a emoção) Na verdade, eu não queria... (com a voz embargada).Mas, um dia cheguei em casa, cansado depois de ter feito mais um transmissão e me surpreendi ao ouvir meu filho me imitando, usando bordões com “Acelera, acelera” e “Arreia, arreia”. Aí eu pensei “Meu Deus, será que é isto mesmo que meu filho quer?”. Depois nós conversamos, falei sobre as dificuldades de ser um cronista esportivo, porém ele me confirmou que era isto mesmo que queria e hoje já trabalhamos juntos: eu como narrador e ele como repórter, viajamos juntos, trocamos experiências. É difícil descrever isto. Só sei que para mim é uma grande alegria, satisfação saber que sou um espelho para ele, que tem um grande futuro pela frente e com certeza vai me substituir no dia que eu me aposentar dos microfones.

sexta-feira, 27 de junho de 2014

FEIRA, A CIDADE DO SAMBA DE RODA



Samba no pé e cultura no coração. É com esse espírito que Feira de Santana será palco do Festival Samba de Roda, Samba de Todos, que durante 16 dias possibilitará uma programação exclusiva dedicada à expressão musical que evidencia a riqueza da cultura afro-brasileira na Bahia. O festival terá início no dia 3 de julho e se estenderá até o dia 19. Uma grande roda reunirá 16 grupos do Município e da região.

Idealizado pela Fundação Cultural Municipal Egberto Tavares Costa, o festival será realizado em parceria com as secretarias municipais de Cultura, Esporte e Lazer e de Educação e envolverá, além dos grupos de samba de roda, seis escolas da rede municipal de ensino. A programação inclui seminário, palestras, conferências, mostras de vídeo e apresentações musicais e culturais em vários espaços da cidade.

A abertura da programação será com um seminário, às 9h do dia 3, no Centro de Cultura Amélio Amorim. “Samba martelo e samba chula do sertão baiano” é o tema da conferência programada para as 10h30, que será proferida pelo cantor e repentista Antônio Ribeiro da Conceição, conhecido como Bule Bule. Ele falará sobre o surgimento do samba no Recôncavo Baiano e as linguagens adquiridas com a expansão para o sertão.

No mesmo dia, a partir das 14h, os participantes do seminário terão a conferência “Samba de roda e mercado, economia criativa e acesso aos meios de comunicação”, com Monique Badaró, da Secretaria de Cultura da Bahia (SECULT), Edivaldo Bokagi, da Associação de Sambadores e Sambadeiras da Bahia (ASSEBA), e Sérgio Siqueira, da TV Bahia. Nessa tarde, haverá a participação do Reisado de São Vicente.

No período de 14 a 18 de julho, sempre a partir das 9h, haverá palestras e atividades nas escolas Jonathas Telles de Carvalho, bairro Conceição II; Agrário de Melo, distrito de Jaíba; Rosa Maria Espiridião Leite, distrito de Matinha; Ana Maria Alves dos Santos, Conjunto Feira X; e Olga Noêmia, Cidade Nova. As atividades terão a participação de professores, mestres de capoeira, músicos, pesquisadores e lideranças do samba.

O encerramento do festival Samba de Roda, Samba de Todos será na praça principal do bairro Cidade Nova, nos dias 18 e 19 de julho, a partir das 17h. Nos dois dias, a Grande Roda de Samba reunirá grupos de Feira de Santana e dos municípios de São Gonçalo dos Campos, Terra Nova, Antônio Cardoso, Conceição do Jacuípe, Teodoro Sampaio, Irará, Coração de Maria, Conceição da Feira e Salvador.






quarta-feira, 11 de junho de 2014

O TEMPO E AS JABUTICABAS



Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver
daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquela
menina que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ela
chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados.
Não tolero gabolices. Inquieto-me com invejosos tentando destruir
quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos.
Não participarei de conferências que estabelecem prazos fixos
para reverter a miséria do mundo. Não quero que me convidem
para eventos de um fim de semana com a proposta de abalar o milênio.
Já não tenho tempo para reuniões intermináveis para discutir estatutos, normas, procedimentos e regimentos internos.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas,
que apesar da idade cronológica, são imaturos.
Não quero ver os ponteiros do relógio avançando em reuniões
de 'confrontação', onde 'tiramos fatos a limpo'.
Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário geral do coral.
Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: 'as pessoas
não debatem conteúdos, apenas os rótulos'.
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a
essência, minha alma tem pressa...
Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente
humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não
foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados,
e deseja tão somente andar ao lado do que é justo.
Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade, desfrutar desse
amor absolutamente sem fraudes, nunca será perda de tempo.'
O essencial faz a vida valer a pena.

Rubem Alves

terça-feira, 10 de junho de 2014

SE CONHECE O HOMEM PELO “ARRIAR DA MALA”





Meu pai dizia, sempre citando os mais velhos, que se conhece o homem pelo “arriar da mala”. Por isso aprendi desde cedo a confiar na impressão do primeiro contato e, seguindo os ensinamentos do velho Zinho, prestando atenção no olhar e no timbre de voz. E foi a sinceridade mostrada pela janela da alma e o sotaque forte do sertanejo que não se deixa quebrar fácil que me aproximaram de Marcondes Araújo, há umas duas décadas e meia.

Homem de poucas palavras, chegava de Senhor do Bonfim - ou de Vitória da Conquista, não lembro ao certo. Sozinho. Deixara para trás a mulher Neide e a pequena Mariana, hoje médica e uma linda mulher, irmã da igualmente linda Amanda, esta nascida quando o casal já habitava terras feirenses. Ele diz, sempre, que fui a primeira pessoa que conheceu na então desconhecida Feira de Santana. Nossa amizade, hoje sabemos, nasceu predestinada a se eternizar.

Nos falamos pouco, nos vemos menos ainda. Mas é impressionante como me faz bem saber que eles existem. Porque são pessoas cujo modelo está cada vez mais raro de se encontrar. Às vezes cobro mais presença deles em minha vida. Em vão, claro. Continuam sempre os mesmos. E aí, quando nos vemos, é como se nos encontrássemos com frequência. É tudo muito natural, porque afinal somos amigos e é assim que funciona.

Mas na noite desta terça-feira (10) foi diferente. O que seria um trabalho de rotina acabou se tornando um momento muito especial. Durante o lançamento de seu mais novo livro – Jeremias ladrão-de-cavalo e outros contos –, no Museu de Arte Contemporânea (MAC), Conde me surpreendeu, me emocionou e me fez chorar com uma dedicatória aparentemente simples, mas que para nós tem um significado que certamente vamos levar por toda a vida:

“À minha grande e eterna amiga, pessoa brilhante e intensa, a quem 
devo a primeira e calorosa acolhida que tive em Feira de Santana”.  

Ao meu grande e eterno amigo só me resta desejar sucesso nesta jornada literária – e ele ainda diz que não é escritor – lembrando sempre que as palavras, onde quer que estejam, saltam aos olhos de todos, mas somente àqueles que têm o poder de ver além da superficialidade é dado o direito da verdadeira compreensão. Porque ler é ver o mundo com a alma.

Madalena de Jesus

domingo, 1 de junho de 2014

DE QUANDO EU ERA “ANJO”














O altar com a bela imagem de Nossa Senhora da Conceição estava exatamente igual, com exceção das flores. As rosas de outrora foram substituídas por lindos girassóis. O que não afetou em nada a emoção de reviver momentos tão marcantes da infância, reconhecendo, entre as pessoas que lotavam a pequena igreja do povoado de Picado, em Conceição do Jacuípe, um ou outro personagem da minha própria história.

Me reconheci na voz trêmula da pequena Adriele no topo do altar. “Virgem recebe esta coroa...”, cantei junto, tentando conter as lágrimas. Era como se minha mãe estivesse ali, entre aquelas tantas mães quase mudas de contentamento por verem seus “anjos” vestidos de verde e branco louvando Nossa Senhora. Lá estavam, também como em tempos já tão distantes, os professores orgulhosos diante da performance dos alunos.

Quase pude ver o olhar amoroso da minha primeira e melhor professora, Olga Vital, com quem dividi, mais tarde, a emoção contida durante a celebração.  E no abraço de despedida, diante do templo em que recebi os sacramentos do batismo, primeira comunhão e crisma, veio a certeza de que guardarei para sempre os ensinamentos de fé e de amor que me foram dados durante toda a vida. Desde quando eu era “anjo” para celebrar a Virgem Maria.

Madalena de Jesus

sexta-feira, 23 de maio de 2014

ALEGRIA



Aproveita que hoje tô palhaça quero pintar o nariz
de vermelho vestir a saia rodada demorar em
frente ao espelho botar cabelo de boneca e aquele
batom vermelho sair logo pra essa festa me
empanturrar de brigadeiro depois jogar conversa
fora chorar trancada no banheiro .

Lia Sena (em POR TODO RISCO)

quarta-feira, 21 de maio de 2014

OS DOIS HORIZONTES




Dois horizontes fecham nossa vida:

Um horizonte, — a saudade
Do que não há de voltar;
Outro horizonte, — a esperança
Dos tempos que hão de chegar;
No presente, — sempre escuro, —
Vive a alma ambiciosa
Na ilusão voluptuosa
Do passado e do futuro.

Os doces brincos da infância
Sob as asas maternais,
O vôo das andorinhas,
A onda viva e os rosais.
O gozo do amor, sonhado
Num olhar profundo e ardente,
Tal é na hora presente
O horizonte do passado.

Ou ambição de grandeza
Que no espírito calou,
Desejo de amor sincero
Que o coração não gozou;
Ou um viver calmo e puro
À alma convalescente,
Tal é na hora presente
O horizonte do futuro.

No breve correr dos dias
Sob o azul do céu, — tais são
Limites no mar da vida:
Saudade ou aspiração;
Ao nosso espírito ardente,
Na avidez do bem sonhado,
Nunca o presente é passado,
Nunca o futuro é presente.

Que cismas, homem? — Perdido
No mar das recordações,
Escuto um eco sentido
Das passadas ilusões.
Que buscas, homem? — Procuro,
Através da imensidade,
Ler a doce realidade
Das ilusões do futuro.

Dois horizontes fecham nossa vida.
Machado de Assis
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Não sublimei o seu amor
apenas renunciei.
Pois você disse uma vez: foi muito bom o que aconteceu;
sendo assim houve descaso,
você conformou,
não lutou e foi-se consolando.
Aprendi também a me consolar.

Machado de Assis

terça-feira, 20 de maio de 2014

ABERTAS INSCRIÇÕES PARA O PRO-CULTURA/ESPORTE



Estão abertas até o dia 16 de junho as inscrições para o programa Pro-Cultura/Esporte, que é uma parceria da Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer (SECEL), Fundação Municipal de Tecnologia da Informação, Telecomunicação e Cultura Egberto Tavares Costa (FUNTITEC) e Secretaria Municipal da Fazenda (SEFAZ), desenvolvida desde 1997. O mecanismo integra o Sistema Municipal de Fomento à Cultura.

O objetivo o programa é promover ações de patrocínio cultural por meio de renúncia fiscal, contribuindo para estimular o desenvolvimento cultural de Feira de Santana, ao tempo em que possibilita às empresas patrocinadoras associar sua imagem diretamente às ações culturais que considerem mais adequadas.

Através do Programa, é possível financiar a atividade cultural e esportiva, mediante abatimento do ISS a recolher. Para receber o abatimento, é necessário que a empresa patrocinadora contribua com recursos próprios equivalentes a, no mínimo, 20% dos recursos totais transferidos ao projeto.

Neste ano, o Por-Cultura/Esporte ampliou o seu alcance e passou a contemplar também as expressões e os bens de natureza material e imaterial discriminados na lei orgânica da cultura da Bahia. Serão, portanto apoiados também projetos culturais nas áreas de Patrimônio Material e Natural; Artes Cênicas e Música; Artes Visuais e Artesanais; Design e Serviços Criativos; Audiovisual e Mídias Interativas; Educação e Qualificação Culturais; Patrimônio Imaterial; Memória e Preservação; Espaços Culturais.

O valor total da renúncia fiscal a ser obtida através da captação pelos projetos apoiados equivale a R$ 430 mil, distribuídos entre as diversas áreas da cultura e do esporte. As inscrições podem ser feitas na sede da Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer, das 09h às 12h e das 14h às 17h.

As instruções para participação e os documentos do edital estão disponíveis no site http://www.feiradesantana.ba.gov.br/secel. para obter informações basta ligar para (75) 3221-5079.

Com informações da Secom/PMFS

segunda-feira, 19 de maio de 2014

ESTRELAS SÃO PALAVRAS QUE DEVEM BRILHAR




Certo dia imaginei um mundo novo brotar,
Sonhei acordado que as estrelas
Eram palavras ao mar.

Sonhei que elas boiavam,
E que precisavam de alguém para ajudar,
Ajudá-las nessa labuta,
Ajudá-las nessa missão,
Ajudá-las a não se afogarem
Nessa imensa vastidão.

Daí um fecho de esperança apareceu,
Eram crianças tão vívidas
Que o céu resplandeceu.

As estrelas entusiasmadas
Começaram a brilhar,
Seus brilhos eram tão fortes
Que as crianças começaram a matutar:
Devemos pegá-las e salvá-las,
Caso contrário elas irão afundar.
Enquanto se aproximavam,
Perceberam uma mutação,
As estrelas se transformaram em palavras,
Que estavam presas em cada coração.

A esperança brilhou;
A sabedoria brilhou;
A tolerância brilhou;
A amizade brilhou
E por fim o amor brilhou.

No fim as crianças perceberam
Que as palavras são estrelas,
Que precisam ser enxergadas
Para brilharem eternamente,
E assim iluminar o mundo de cada um.


Deivison Santos

domingo, 18 de maio de 2014

DATA MEMORÁVEL




Nenhuma das efemérides que a Pátria costumava lembrar com demonstrações de júbilo e civilismo, como a da Independência, Proclamação da República e Abolição mereceram mais atenções e referências do que as dedicadas ao cinquentenário da Revolução de 64. Todas, evidentemente, para demonstrar erros, excessos e descomedimentos do regime militar e tentar manter a base de sustentação que deu o governo do país à chamada esquerda.

A grande plataforma da esquerda tem sido o combate ao Movimento de 64, mas o tempo passou, 64 vai ficando longe  e é necessário diariamente tratar do assunto com os exageros possíveis, que levaram até à exumação de vítimas de prováveis assassinatos, ex-presidentes, hipótese desfeita  pela perícia médico-legal, o que dá a certeza alentadora de que ainda restam pessoas honestas neste país.

A velocidade dos fatos desencadeados no 31 de março surpreendeu até as lideranças das Forças Armadas. O país inteiro vivia clima de preocupações e incertezas. Quando o movimento foi deflagrado, esperava-se luta e resistência em alguns Estados, inclusive na Bahia.   Um chefe revolucionário confidenciou, tempos depois, a amigos, que as forças revolucionárias, se encontrassem forte resistência em Salvador, pretendiam instalar em Feira de Santana centro de comando de operações. A fuga precipitada do presidente João Goulart para o Uruguai, poucas horas depois de deflagrado o movimento, surpreendeu a todos.

Na Bahia houve apenas a posição dúbia do governador Lomanto Jr., que provocou hesitações e dúvidas. Um cidadão, que colhia assinaturas em abaixo-assinado pedindo a deposição do prefeito desta cidade foi preso pela Polícia Militar.  Chefes políticos e o povo não sabiam o que iria acontecer. Alguns políticos desapareceram para não assumir posições. Preso o prefeito e afastado, definitivamente, do cargo, os boatos, muitos deles alarmantes, tomaram as ruas. Em pesado ambiente de confusão e incertezas toda a responsabilidade caiu nas costas da Câmara. Altamir Lopes, vice-presidente do Legislativo, assumiu a Prefeitura até a posse do prefeito que a Câmara elegeu, Joselito Amorim, que livrou o Município do descrédito, da inoperância e da situação de insolvência em que se encontrava.

A Câmara nunca sofreu pressões para decidir e mente quem afirma, hoje, que deliberou cercada de metralhadoras. Tomou medidas acertadas num momento de crise. Combateu decisões judiciais concedidas sob encomenda e deu cunho de legalidade às suas deliberações. Houve quem sugerisse o “impeachment” do prefeito deposto e várias outras disparatadas soluções foram aventadas. Nomes foram lembrados para ocupar a Prefeitura mas a Câmara, por sua maioria, que era apenas de um voto, agiu com serenidade, buscando o único caminho possível em  momento de extrema gravidade. Declarou vago o cargo de prefeito, o que era inquestionável, e elegeu, para a chefia do Executivo, o seu presidente, o único vereador que tinha experiência de governo.

Amorim construiu o Estádio,o prédio do Ginásio Municipal,restaurou as combalidas finanças municipais e a confiança do comércio no governo.O cinquentenário da Revolução merece reverências mas dos que se disseram perseguidos e humilhados e a usaram para se eleger, se projetar e continuar a viver sem nada fazer a não ser em proveito próprio. Mas, a Câmara, ao devolver, recente e simbolicamente, o mandato ao prefeito deposto, praticou apenas ato demagógico. Ninguém devolve o que não tirou e nunca possuiu.

Hugo Navarro

Publicado no Jornal Folha do Norte em 16/05/2014

sábado, 17 de maio de 2014

FUTEBOL E MULHER EM EXPOSIÇÃO MO MAC





Futebol e Mulher. Dois temas recorrentes no cotidiano dos brasileiros, mas que nunca deu muito certo juntos. Desafiando essa visão tradicional, o Museu de Arte Contemporânea Raimundo de Oliveira (MAC) apostou nessa união e abriu, na noite de ontem, 15, ao mesmo tempo, as exposições dos artistas plásticos Joaquim Franco e Lene Franpper. A obra dele fala da paixão do Brasil pelo futebol; a dela, do universo feminino.

A chuva forte que caía durante a noite não impediu que um grande público prestigiasse a vernissage dupla. Os artistas receberam os convidados em alto estilo, diante de suas obras que chamam a atenção não somente pelo estilo, como pela criatividade. No “País do Fútilboy, onde os campos de futebol são eternos”, ou na diversidade do “Universo feminino e suas nuances”, Joaquim e Lene esbanjam talento.

A relação com o futebol desde menino, o grande número de craques brasileiros e o fato da Copa do mundo 2014 ser no Brasil foram alguns fatores que levaram Joaquim Franco à escolha do tema para as 58 infogravuras e duas telas com pintura computacional. Ele retrata os craques – especialmente Pelé, destaca o futebol feminino e a superação por meio do esporte, personagens da literatura e até Jesus Cristo, que aparece em um dos quadros como goleiro.
                 
Nas telas em acrílico sobre tela de Lene Franpper, que desenha e pinta desde criança, mas só agora expõe sua obra, a mulher aparece em estilo figurativo no exercício de suas múltiplas habilidades: a mãe carinhosa e protetora, a professora, a missionária, a sedutora, a religiosa. As cores verde e azul predominam nessa fase da artista feirense, que é graduada em Educação Física, tem 37 anos e confessa que se inspira na própria mãe para compor a sua arte.

Madalena de Jesus