domingo, 9 de fevereiro de 2014

ESTRADA DO TEMPO



Egberto Costa, jornalista, escritor e poeta

Vou pegar a bagagem da saudade e colocar na mala da vida, para poder caminhar pelas estradas do tempo, onde antes não se pensava ir.

Em cada dobra haverei de encontrar as lembranças, as tristezas, as saudades e a sua presença. Não vou em busca de ódios e não os quero. O tempo haverá de servir para guardar o que ficou de bom.

A bagagem vai recheada. Levará pedaços de vida, recortes de amores perdidos, trapos de desilusões. A mala irá pesada, vai ser difícil carregá-la sozinho. É possível parar, na caminhada, e descansar um pouco. Na próxima curva poderei achar quem queira carregar esta bagagem comigo.

A minha estrada vai se confundir nas imensidões das outras para se tornar iguais as demais. Haverei de encontrar outros caminhantes em busca do mesmo objetivo. Vai chegar o tempo de não mais ser o centro das atrações. Torna-me-ei um anônimo na multidão e sobre minha cabeça não cairão mais as iras dos ameaçados. Não vai ser mais preciso buscar os olhos como resposta, a ninguém interessará tais detalhes.

Aí então chegou o momento de parar. Visto que não haverá razão de prosseguir viagem pela estrada onde não haja surpresas.

Será tempo também de abandonar a mala com toda a bagagem qu traz, pois o sentido de existir acabou. E das lembranças nem é bom falar.

Duma coisa não se pode fugir: arrumar a bagagem da vida para seguir a estrada do tempo.

MEMÓRIA

"Estrada do Tempo", de Egberto Costa, publicado no jornal Feira Hoje, página 17, edição de 27 de setembro de 1979, foi também o título do livro organizado pela jornalista Madalena de Jesus, em 2005, reunindo crônicas do jornalista Egberto Costa, que nos deixou em maio de 2002.

Registro feito pelo Blog Por Simas, em 26 de maio de 2009.

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