sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

LUCÍLIO BASTOS, A VOZ.



A voz de Lucílio Bastos calou definitivamente na quarta-feira (5)

Quando iniciei a carreira jornalística em Feira de Santana existiam alguns ícones da área de comunicação. Lucílio Bastos era um deles. Mas por uma dessas ironias da vida, não o conheci, de fato, nesta cidade. Foi em terras grapiúnas, mais precisamente em Itabuna, no início da década de 90, que se deu nossa aproximação.

Lá, como aqui, ele era conhecido pela voz magnífica e pela qualidade do texto, características que marcaram a sua vida profissional. Destemido, sabia como ninguém fazer o bom jornalismo. Sim, jornalismo. Porque Lucílio não era somente radialista.

Lembro do nosso último encontro, ainda no Sul da Bahia, das boas risadas e da troca de confidências profissionais. Nos últimos anos, mantivemos contato frequente via redes sociais e mesmo quando já fisicamente fragilizado, a sua voz continuava a mesma: bela, firme.

A mesma voz que em 1975 repercutiu em programa na Rádio Cultura de Feira de Santana, o discurso do então deputado federal Francisco Pinto (MDB) contra o presidente do Chile, Augusto Pinochet.  A concessão da emissora foi cassada em seguida, como lembra o jornalista Dimas Oliveira, no blog Demais.

O discurso

"O que nos vem do Chile de Pinochet é o fechamento de jornais, é a censura desvairada à imprensa remanescente. O que nos vem do Chile é a opressão mais cruel, de que nos dá idéia a reportagem e as fotos publicadas pela revista Visão, do campo de concentração da Ilha Dawson. O que nos vem do Chile é o clamor dos presos (...) Três mil mortos, segundo Pinochet declarou a Dorrit Harazim, da revista Veja (...)

Mas o que nós desejamos, Sr. Presidente, é apenas deixar registrado nos Anais, o nosso protesto e a nossa repulsa pela presença indesejável dos vários Pinochets que o Brasil infelizmente está hospedando. Se aqui houvesse liberdade, o povo manifestaria seu descontentamento e a sua ira santa, nas ruas, contra o opressor do povo chileno. Para que não lhe pareça, contudo, que no Brasil estão todos silenciosos e felizes com sua presença, falo pelos que não podem falar, clamo e protesto por muitos que gostariam de reclamar e gritar nas ruas contra sua presença em nosso País".

A pedido do presidente Ernesto Geisel, o ministro da Justiça Armando Falcão representou contra Chico Pinto, com base num artigo da Lei de Segurança Nacional que vedava ofensas a chefes
de nações estrangeiras. Em 28 de maio, veio a determinação da censura federal, registrada no pioneiro livro A censura política na imprensa brasileira, do jornalista Paolo Marconi:

- De ordem superior, fica terminantemente proibida a divulgação, através dos meios de comunicação social, escrito, falado e televisado, de notícias, comentários, referências, transcrição e outras matérias relativas ao deputado Francisco Pinto.

Madalena de Jesus

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