sexta-feira, 27 de junho de 2014

FEIRA, A CIDADE DO SAMBA DE RODA



Samba no pé e cultura no coração. É com esse espírito que Feira de Santana será palco do Festival Samba de Roda, Samba de Todos, que durante 16 dias possibilitará uma programação exclusiva dedicada à expressão musical que evidencia a riqueza da cultura afro-brasileira na Bahia. O festival terá início no dia 3 de julho e se estenderá até o dia 19. Uma grande roda reunirá 16 grupos do Município e da região.

Idealizado pela Fundação Cultural Municipal Egberto Tavares Costa, o festival será realizado em parceria com as secretarias municipais de Cultura, Esporte e Lazer e de Educação e envolverá, além dos grupos de samba de roda, seis escolas da rede municipal de ensino. A programação inclui seminário, palestras, conferências, mostras de vídeo e apresentações musicais e culturais em vários espaços da cidade.

A abertura da programação será com um seminário, às 9h do dia 3, no Centro de Cultura Amélio Amorim. “Samba martelo e samba chula do sertão baiano” é o tema da conferência programada para as 10h30, que será proferida pelo cantor e repentista Antônio Ribeiro da Conceição, conhecido como Bule Bule. Ele falará sobre o surgimento do samba no Recôncavo Baiano e as linguagens adquiridas com a expansão para o sertão.

No mesmo dia, a partir das 14h, os participantes do seminário terão a conferência “Samba de roda e mercado, economia criativa e acesso aos meios de comunicação”, com Monique Badaró, da Secretaria de Cultura da Bahia (SECULT), Edivaldo Bokagi, da Associação de Sambadores e Sambadeiras da Bahia (ASSEBA), e Sérgio Siqueira, da TV Bahia. Nessa tarde, haverá a participação do Reisado de São Vicente.

No período de 14 a 18 de julho, sempre a partir das 9h, haverá palestras e atividades nas escolas Jonathas Telles de Carvalho, bairro Conceição II; Agrário de Melo, distrito de Jaíba; Rosa Maria Espiridião Leite, distrito de Matinha; Ana Maria Alves dos Santos, Conjunto Feira X; e Olga Noêmia, Cidade Nova. As atividades terão a participação de professores, mestres de capoeira, músicos, pesquisadores e lideranças do samba.

O encerramento do festival Samba de Roda, Samba de Todos será na praça principal do bairro Cidade Nova, nos dias 18 e 19 de julho, a partir das 17h. Nos dois dias, a Grande Roda de Samba reunirá grupos de Feira de Santana e dos municípios de São Gonçalo dos Campos, Terra Nova, Antônio Cardoso, Conceição do Jacuípe, Teodoro Sampaio, Irará, Coração de Maria, Conceição da Feira e Salvador.






quarta-feira, 11 de junho de 2014

O TEMPO E AS JABUTICABAS



Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver
daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquela
menina que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ela
chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados.
Não tolero gabolices. Inquieto-me com invejosos tentando destruir
quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos.
Não participarei de conferências que estabelecem prazos fixos
para reverter a miséria do mundo. Não quero que me convidem
para eventos de um fim de semana com a proposta de abalar o milênio.
Já não tenho tempo para reuniões intermináveis para discutir estatutos, normas, procedimentos e regimentos internos.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas,
que apesar da idade cronológica, são imaturos.
Não quero ver os ponteiros do relógio avançando em reuniões
de 'confrontação', onde 'tiramos fatos a limpo'.
Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário geral do coral.
Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: 'as pessoas
não debatem conteúdos, apenas os rótulos'.
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a
essência, minha alma tem pressa...
Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente
humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não
foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados,
e deseja tão somente andar ao lado do que é justo.
Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade, desfrutar desse
amor absolutamente sem fraudes, nunca será perda de tempo.'
O essencial faz a vida valer a pena.

Rubem Alves

terça-feira, 10 de junho de 2014

SE CONHECE O HOMEM PELO “ARRIAR DA MALA”





Meu pai dizia, sempre citando os mais velhos, que se conhece o homem pelo “arriar da mala”. Por isso aprendi desde cedo a confiar na impressão do primeiro contato e, seguindo os ensinamentos do velho Zinho, prestando atenção no olhar e no timbre de voz. E foi a sinceridade mostrada pela janela da alma e o sotaque forte do sertanejo que não se deixa quebrar fácil que me aproximaram de Marcondes Araújo, há umas duas décadas e meia.

Homem de poucas palavras, chegava de Senhor do Bonfim - ou de Vitória da Conquista, não lembro ao certo. Sozinho. Deixara para trás a mulher Neide e a pequena Mariana, hoje médica e uma linda mulher, irmã da igualmente linda Amanda, esta nascida quando o casal já habitava terras feirenses. Ele diz, sempre, que fui a primeira pessoa que conheceu na então desconhecida Feira de Santana. Nossa amizade, hoje sabemos, nasceu predestinada a se eternizar.

Nos falamos pouco, nos vemos menos ainda. Mas é impressionante como me faz bem saber que eles existem. Porque são pessoas cujo modelo está cada vez mais raro de se encontrar. Às vezes cobro mais presença deles em minha vida. Em vão, claro. Continuam sempre os mesmos. E aí, quando nos vemos, é como se nos encontrássemos com frequência. É tudo muito natural, porque afinal somos amigos e é assim que funciona.

Mas na noite desta terça-feira (10) foi diferente. O que seria um trabalho de rotina acabou se tornando um momento muito especial. Durante o lançamento de seu mais novo livro – Jeremias ladrão-de-cavalo e outros contos –, no Museu de Arte Contemporânea (MAC), Conde me surpreendeu, me emocionou e me fez chorar com uma dedicatória aparentemente simples, mas que para nós tem um significado que certamente vamos levar por toda a vida:

“À minha grande e eterna amiga, pessoa brilhante e intensa, a quem 
devo a primeira e calorosa acolhida que tive em Feira de Santana”.  

Ao meu grande e eterno amigo só me resta desejar sucesso nesta jornada literária – e ele ainda diz que não é escritor – lembrando sempre que as palavras, onde quer que estejam, saltam aos olhos de todos, mas somente àqueles que têm o poder de ver além da superficialidade é dado o direito da verdadeira compreensão. Porque ler é ver o mundo com a alma.

Madalena de Jesus

domingo, 1 de junho de 2014

DE QUANDO EU ERA “ANJO”














O altar com a bela imagem de Nossa Senhora da Conceição estava exatamente igual, com exceção das flores. As rosas de outrora foram substituídas por lindos girassóis. O que não afetou em nada a emoção de reviver momentos tão marcantes da infância, reconhecendo, entre as pessoas que lotavam a pequena igreja do povoado de Picado, em Conceição do Jacuípe, um ou outro personagem da minha própria história.

Me reconheci na voz trêmula da pequena Adriele no topo do altar. “Virgem recebe esta coroa...”, cantei junto, tentando conter as lágrimas. Era como se minha mãe estivesse ali, entre aquelas tantas mães quase mudas de contentamento por verem seus “anjos” vestidos de verde e branco louvando Nossa Senhora. Lá estavam, também como em tempos já tão distantes, os professores orgulhosos diante da performance dos alunos.

Quase pude ver o olhar amoroso da minha primeira e melhor professora, Olga Vital, com quem dividi, mais tarde, a emoção contida durante a celebração.  E no abraço de despedida, diante do templo em que recebi os sacramentos do batismo, primeira comunhão e crisma, veio a certeza de que guardarei para sempre os ensinamentos de fé e de amor que me foram dados durante toda a vida. Desde quando eu era “anjo” para celebrar a Virgem Maria.

Madalena de Jesus