terça-feira, 10 de junho de 2014

SE CONHECE O HOMEM PELO “ARRIAR DA MALA”





Meu pai dizia, sempre citando os mais velhos, que se conhece o homem pelo “arriar da mala”. Por isso aprendi desde cedo a confiar na impressão do primeiro contato e, seguindo os ensinamentos do velho Zinho, prestando atenção no olhar e no timbre de voz. E foi a sinceridade mostrada pela janela da alma e o sotaque forte do sertanejo que não se deixa quebrar fácil que me aproximaram de Marcondes Araújo, há umas duas décadas e meia.

Homem de poucas palavras, chegava de Senhor do Bonfim - ou de Vitória da Conquista, não lembro ao certo. Sozinho. Deixara para trás a mulher Neide e a pequena Mariana, hoje médica e uma linda mulher, irmã da igualmente linda Amanda, esta nascida quando o casal já habitava terras feirenses. Ele diz, sempre, que fui a primeira pessoa que conheceu na então desconhecida Feira de Santana. Nossa amizade, hoje sabemos, nasceu predestinada a se eternizar.

Nos falamos pouco, nos vemos menos ainda. Mas é impressionante como me faz bem saber que eles existem. Porque são pessoas cujo modelo está cada vez mais raro de se encontrar. Às vezes cobro mais presença deles em minha vida. Em vão, claro. Continuam sempre os mesmos. E aí, quando nos vemos, é como se nos encontrássemos com frequência. É tudo muito natural, porque afinal somos amigos e é assim que funciona.

Mas na noite desta terça-feira (10) foi diferente. O que seria um trabalho de rotina acabou se tornando um momento muito especial. Durante o lançamento de seu mais novo livro – Jeremias ladrão-de-cavalo e outros contos –, no Museu de Arte Contemporânea (MAC), Conde me surpreendeu, me emocionou e me fez chorar com uma dedicatória aparentemente simples, mas que para nós tem um significado que certamente vamos levar por toda a vida:

“À minha grande e eterna amiga, pessoa brilhante e intensa, a quem 
devo a primeira e calorosa acolhida que tive em Feira de Santana”.  

Ao meu grande e eterno amigo só me resta desejar sucesso nesta jornada literária – e ele ainda diz que não é escritor – lembrando sempre que as palavras, onde quer que estejam, saltam aos olhos de todos, mas somente àqueles que têm o poder de ver além da superficialidade é dado o direito da verdadeira compreensão. Porque ler é ver o mundo com a alma.

Madalena de Jesus

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