terça-feira, 16 de dezembro de 2014

RUÍDO QUE LISONJEIA


* Por Madalena de Jesus

Esse texto foi postado em 6 de fevereiro de 2010. 
Hoje me dei  conta de como ele continua atual.

Quando eu digo que não tenho o dom de escrever artigos e/ou crônicas, os amigos jornalistas não levam a sério. Alguns até pensam, eu bem sei, que é uma estratégia para estimular elogios. Pensamento, aliás, permitido apenas aos que não são verdadeiramente meus amigos. Mas, creiam, é a mais pura verdade. Eu realmente não domino as técnicas para elaborar esse estilo, que deve ter elementos atrativos para o leitor e, ao mesmo tempo, demonstrar um nível de conhecimento pelo menos satisfatório sobre a questão abordada.

Talvez devido a esta minha incapacidade eu sinta-me constrangida diante de alguns textos que, confesso, não tenho coragem de inserir em nenhum dos gêneros citados. Em minhas leituras de jornais, revistas, sites e blogs chego a ficar estarrecida diante de verdadeiros crimes contra o que há de mais sério no exercício do jornalismo: o tratamento da informação. Fala-se tanto em abuso de poder e o que vemos/lemos diariamente mostra que há um excessivo uso da palavra escrita, esta maravilhosa conquista da humanidade. Beira o abuso.

Imaturidade? Revolta? Falta do que fazer? Sinceramente não sei como definir a atitude de profissionais de comunicação que arrotam intolerância e pedantismo em forma de palavras. Algumas muito bem escolhidas. Bonitas até, mas que não dizem absolutamente nada. Vale ressaltar que este despretensioso comentário não é direcionado a uma pessoa específica e sim a todas aquelas que, de uma hora para outra, encontraram a oportunidade de escrever para um grande público leitor e não se dão conta da responsabilidade desta tarefa.

Não quero, de forma alguma, dizer como se deve - ou não - fazer jornalismo. Longe de mim atitude tão autoritária. Mas em três décadas de atuação na área, juro que nunca vi tanto texto mal escrito, tanta crítica infundada, tanta coisa sem pé nem cabeça ocupando os espaços da mídia. Enfim, nunca tanta gente escreveu tanta bobagem por estas plagas. E, no caso específico dos blogs, podem ser inseridos na lista de autores textuais mal informados e raivosos os leitores que, escondendo-se atrás de pseudônimos ridículos fazem comentários idem.

Tanta arrogância literária faz lembrar o maior escritor brasileiro de todos os tempos. Motivos não lhe faltaram para subir ao mais alto degrau do convencimento. Mas, ao contrário, procurou manter sempre a humildade típica dos que muito sabem. Lá pelos idos de 1872, ao apresentar o primeiro romance da carreira (Ressurreição) ao público e à crítica, Machado de Assis já ensinava: “Cada dia que passa me faz conhecer melhor o agro destas tarefas literárias - nobres e consoladoras, é certo -, mas difíceis quando as perfaz a consciência”.

Machado diz ainda que no extremo verdor dos anos presumimos muito de nós e que cabe ao tempo diminuir tamanha confiança e deixar apenas o que é indispensável ao homem, que é a capacidade de reflexão. Ele inclui no tempo a condição do estudo, “sem o qual o espírito fica em perpétua infância”. Ou seja, o tempo é um bom mestre, mas a cada um de nós cabe uma parte a ser feita na construção do próprio conhecimento. E foi nos ensinamentos do jornalista que tornou-se um cânone da literatura universal que encontrei esta valiosa advertência, que vale para todos, mas tem um significado especial para os iniciantes:

"Aplausos, quando os não fundamenta o mérito, afagam certamente o espírito, e dão algum verniz de celebridade, mas quem tem vontade de aprender e quer fazer alguma coisa prefere a lição que melhora ao ruído que lisonjeia".

Bom, diante de tamanha sabedoria, dizer mais o que?

* Madalena de Jesus é jornalista, radialista, professora graduada em Letras com Francês e pós-graduada em Docência do Ensino Superior