terça-feira, 28 de julho de 2015

HOMENAGEM A 105 ANOS DE HISTÓRIA



Quem me conhece sabe a importância que a passagem pelas terras grapiúnas tem em minha vida – pessoal e profissional. Em uma rápida consulta à memória, os momentos vividos vêm como flashes: a convivência com os então novos colegas e hoje grandes amigos na Prefeitura Municipal; o surgimento de amizades que se firmaram com o tempo, apesar da distância que se estabeleceu posteriormente; a família completa que ganhei, com direito a mãe, irmãos e sobrinhos; a redação do Jornal Agora (inesquecível); os passeios de fim de semana às vizinhas cidades litorâneas; a imagem do rio Cachoeira, resistência viva da natureza, mesmo maltratado; o Centro de Cultura Adonias Filho, palco de espetáculos e encontros memoráveis; a Universidade Estadual de Santa Cruz, o centro do saber estrategicamente localizado entre os dois maiores centros urbanos da região. Foi de lá, da UESC, que recebi uma notícia que afagou o meu coração e diminuiu um pouco a saudade, por meio do site Rede Sul Bahia, aquele que só traz boas notícias. Uma bela e merecida homenagem pelo 105º aniversário de Itabuna, a minha segunda pátria desde dezembro de 1992, que reproduzo em agradecimento à acolhida que me tornou filha de fato desse lugar que ganhou o mundo em verso e prosa. 

A Editus - Editora da UESC - homenageia Itabuna pelos seus 105 anos de emancipação política, festejados em 28 de julho. O destaque é dado a importantes publicações sobre o passado e o presente do município. Os textos, assinados por pesquisadores e escritores, trazem uma série de fatos e personagens históricos, o desenvolvimento de seus espaços e a riqueza do seu povo.

O livro De Tabocas a Itabuna: um caminho histórico-geográfico, organizado pelas professoras Lurdes Bertol e Maria Palma Andrade, é um deles. A segunda edição, revista e ampliada, já está sendo preparada e em breve chegará aos leitores. A obra é um convite para um passeio pela cidade, apresentando de forma ilustrada o nascimento e desenvolvimento de Itabuna desde quando pertencia a Capitania de São Jorge dos Ilhéus.

Outra grande publicação, que também já está em fase de preparação para uma nova edição, é Ensaios históricos de Itabuna: o Jequitibá da Taboca, obra baseada nos relatos de um grande personagem grapiúna, o senhor Manoel Bomfim Fogueira. A obra foi organizada pelo escritor Oscar Ribeiro Gonçalves com as contribuições da professora Janete Ruiz e do historiador João Cordeiro.

A Editora também destaca títulos já bem conhecidos do público. O livro Itabuna: história e estórias, da pesquisadora Adriana Dantas Andrade-Breust, é uma referência sobre o município. A autora traz a nobreza do relato oral de personagens comuns do cotidiano que vivenciaram a evolução da cidade.

Outra referência é O centro da cidade de Itabuna: trajetória, signos e significados. De autoria da professora Lurdes Bertol, traz elementos da geografia urbana de Itabuna e contribui para o conhecimento da representação desses espaços para a cidade e a necessidade de sua preservação.

Também de Lurdes Bertol, o livro A cidade em tela: Itabuna e Walter Moreira é uma ode à cidade, trazendo o legado histórico deixado nas obras do pintor que retratou pessoas simples do cotidiano itabunense do século XX. O trabalho apresenta correspondências fotográficas atuais que buscam mostrar as influências exercidas pela passagem do tempo nos espaços de convivência da cidade.

E como não poderia de deixar de ser, a Editus também chama a atenção para uma de suas produções mais representativas. É o livro Expressões poéticas de Valdelice Pinheiro, organizado pela professora Tica Simões. A memória cultural da escritora itabunense é resgatada neste livro que exalta toda a sua maestria poética e Itabuna como o lugar de todas as suas vivências.

Todos os livros que falam da cidade e mostram a importância de Itabuna no contexto regional, estão disponíveis na Livraria da Editus, no Centro de Artes e Cultura Paulo Souto, na UESC. Todos estes títulos estão disponíveis também na Livraria Nobel e na Banca Shopping, ambos em Itabuna. Em Ilhéus nossos livrospodem ser adquiridos na Livraria Papirus. Na internet, o leitor poderá encontrar as publicações nos sites www.livrariacultura.com.br e www.bookpartners.com.br. Pedidos podem ser feitos também pelo e-mail vendas.editus@uesc.br ou pelo telefone 73 3680-5240.

E para aqueles que preferem a versão virtual, a Editus já disponibiliza algumas destas publicações em formato digital no site www.uesc.br/editora. O leitor pode baixar o pdf gratuitamente. Estas e outras obras fazem parte do projeto Editus Digital, que visa democratizar o acesso ao conhecimento e valorizar as produções regionais.

sexta-feira, 24 de julho de 2015

CANÇÃO DA CHEGADA



Roberval Pereyr



Desisto de mim, sou passado.
E fico só: meu legado
são estas dúvidas mortas.
E medito.
A solidão é um cacto.
E há desertos e álcoois
empoeirando a memória;
auras que emperram em minhas pálpebras.
(O meu rosto é um sertão suicida
de mitos tatuados com farpas).
Sim, desisto.
Pulverizo-me em forma de cartas
ao acaso lançadas, asas frágeis,
movidas por dilemas desiguais.

quinta-feira, 23 de julho de 2015

A FORÇA DA MULHER NO CINEMA JUDAICO

O clube A Hebraica realiza de 4 a 9 de agosto o 19º Festival de Cinema Judaico, que traz a São Paulo 22 produções, 19 delas inéditas no Brasil e já apresentadas em festivais internacionais.

O destaque do festival é a força da mulher. O filme de abertura "O Julgamento de Viviane Amsalem" conta o drama protagonizado pela atriz Ronit Elkabetz, também diretora do filme, que interpreta uma personagem que luta há três anos para recuperar sua liberdade e dignidade por meio do divórcio, mas sem o consentimento do marido.

"A Dama Dourada" narra a história de Maria Altmann, uma judia interpretada pela atriz Helen Mirren que sobrevive à Segunda Guerra Mundial e decide processar o governo austríaco para recuperar o quadro "Woman in Gold" (ou "Portrait of Adele Bloch-Bauer I") , de Gustav Klimt - retrato de sua tia que foi roubado durante a ocupação nazista.

Além de outros títulos sobre mulheres inspiradoras, merecem destaque os brasileiros "Esse Viver Ninguém Me Tira", de Caco Ciocler, sobre Aracy Guimarães Rosa, e "Mamaliga Blues", de Cassio Tolpolar, sobre a busca de judeus brasileiros por suas raízes na Moldávia.

O festival ocorre em cinco endereços - duas salas no clube A Hebraica, Cinemark Pátio Higienópolis, Cine Sesc, Teatro Eva Herz (Livraria Cultura do Conjunto Nacional) e Museu da Imagem e do Som (MIS). As sessões no Teatro Anne Frank e no MIS são gratuitas, enquanto nas outras salas os ingressos custam R$ 12 (inteira).

Blog Demais 
Fonte: http://www.conib.org.br/

quarta-feira, 22 de julho de 2015

O VALIOSO TEMPO DOS MADUROS



Recebi esse texto da pedagoga Ana Santiago, profissional da melhor qualidade e uma amiga especial. Já o conhecia, mas a cada (re)leitura vejo com mais clareza a profundidade da mensagem: Não temos tempo para lidar com mediocridades.


Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui
para a frente do que já vivi até agora.

Tenho muito mais passado do que futuro.

Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de cerejas...
As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam
poucas, rói o caroço.

Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.

Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflamados.
Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram,
cobiçando seus lugares, talentos e sorte.

Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir
assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar
da idade cronológica, são imaturos.

Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo
de secretário geral do coral. ‘As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos’.

Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência,
minha alma tem pressa…

Sem muitas cerejas na bacia, quero viver ao lado de gente humana,
muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com
triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua
mortalidade,

Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade,

O essencial faz a vida valer a pena.

E para mim, basta o essencial!

Mário de Andrade

terça-feira, 21 de julho de 2015

TUDO QUE EU TENHO DEVO A FEIRA DE SANTANA


Professor Doutor Humberto Oliveira

Era terça-feira, perto de meio dia. A pressa do caminhar foi freada de repente. Em meio a feirantes, usuários do transporte coletivo e transeuntes que passavam pela avenida Getúlio Vargas, ali perto da Receita Federal, um encontro inesperado e proveitoso. Sim, porque mesmo uma conversa de apenas alguns minutos com o professor Humberto Oliveira, é altamente enriquecedora.

Sempre que nos encontramos o primeiro assunto em pauta é literatura, claro. Brasileira ou Francesa. Aliás, foi nas aulas dele, durante o curso de Letras com Francês, na Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs), que li os melhores textos literários da literatura francesa. Humberto é um desses professores verdadeiramente apaixonados pelo que faz. Não é à toa que já foi até condecorado pelo Governo Francês. E por Feira de Santana.

Bom, aí é que começa a história. Estávamos nós dois a colocar o papo em dia, em frente a uma farmácia, falando da cidade em que vivemos a maior parte de nossas vidas. “Tudo que eu tenho devo a Feira de Santana”, disse o professor a certa altura. Eu apenas concordei, acrescentando o meu orgulho de ter uma filha e um neto nascidos na terra abençoada por Senhora Santana.

Nesse momento de declarações de amor de ambas as partes, eis que uma jovem senhora que estava ao lado, saboreando um milho que acabara de ser assado, pede licença, entra na conversa e dispara: “Eu sou cearense, tem 40 anos que vivo aqui, fui feirante, comerciante e hoje atuo na área de transporte com locação de veículos”. E repetiu a frase dita pouco antes pelo professor: “Tudo que eu tenho devo a Feira de Santana”.

Nós nos apresentamos e logo em seguida nos despedimos. Certamente ela não tem título de cidadania feirense, honraria outorgada pela Câmara Municipal. Eu também não tenho – sou de Conceição do Jacuípe e vivo em Feira há exatos 38 anos. Mas somos filhos tão legítimos de Feira de Santana quanto aqueles que aqui nasceram, condição que nos é dada não somente pelo tempo, mas principalmente pelo amor que nutrimos pela cidade.

E posso repetir com toda convicção: Tudo que eu tenho devo a Feira de Santana!

Madalena de Jesus

sexta-feira, 17 de julho de 2015

UM RIO QUE PASSA NA MINHA IMPERMANÊNCIA




O abstrato cálido das horas trespassa sobre os nossos dias exatamente iguais
E, a comichões, impõe às nossas almas uma falsa sensação de paz
Um descompromisso irresponsável com a vida que pulsa em nossos músculos
Em nossas veias entorpecidas pela porção diária de deletérias substâncias/
Deletérias que nos acodem os ais transitórios da existência/vida
Estes anestésicos diabolicamente maravilhosos!...

A última palavra das Ciências!...
Ópio qualquer que ludibrie os nossos sentidos e os guie para outro sentido qualquer...
Estar na vida é esgueirar-se entre o possível e o sonhado.
É permitir-se ser o que lhe aprouver, é não olhar pra trás na hora derradeira
Em que a porta do ilusório, sempre entreaberta, se feche para o Eterno e para o nunca mais...
E para onde vai esta estrada traiçoeira, estes navios sem rotas definidas, becos sem saída?
Para onde vai o barco que partiu do cais, alheio às águas procelosas que o atormentará?
A vida, este redemoinho de incertezas, partiu de onde e para aonde irá?.
Estáticos, mortos-vivos, em meio à tempestade, o que nos cumpre é imaginá-la além
Para além do além do além que só em sonhos as nossas pobres almas ousam contemplar
E ao voltar de águas nunca navegadas regressarão silentes como se lá não foram
Como se a vida e a morte se cingissem à vaga sensação do aqui/agora
Prisioneiros ao terra-a-terra que enevoa e que embaça a nossa visão do todo indivisível!
E o medo do desconhecido nos persegue há quantos milênios,  quantas existências/vida...
Vida que se arrasta peregrina pela vida afora nas estações insondáveis do Destino/Tempo...
Às vezes, quando o silêncio das horas se impõe sobre o meu ser espectral, me ponho a pensar Alhures...

E assim, envolto no meu ensimesmar-se, perquiro ao Infinito sobre os que partiram,
Sobre os que não mandam notícias do lado de lá -- se é que existe um lado de lá!
E dano a me perguntar o que fazem na imensidão da noite austral aquelas plêiades Incandescentes, lápis-lazúlis, fiat lux, acendendo sóis dentro de mim...
E como um ser deserdado do Universo, sobrevoo o planeta que há em mim. E choro!
E choro copiosamente pelo presunçoso ser que sou: um cisco microscópico, uma ameba...
Um egoísta de um egoísmo atávico flutuando num périplo sem fim ante o majestoso Deus a perguntar:

 "Senhor, o Universo, eis a Tua casa, e nela quantas moradas há?”
Como estes versos toscos que invento para apascentar minha alma
Como estes pensamentos aleatórios que me veem não sei de onde, vem
Como esta tarde que se esvai sem que a noite se dê conta da sua chegada
Como a minha destra vagueia sobre estas últimas palavras
Meus olhos se enchem de horizontes em busca de respostas vãs
Em busca de consolações possíveis ( se é que há possíveis consolações possíveis)
Ó metafisica que compõe a nossa química nesse aglomerado osso/músculo/carne/vida!
Ó mágoa incontida nos seios das mães que choram os filhos na partida, todas as partidas
Ó derradeira hora do abraço que enlaça toda a chegada, toda a despedida.
Ó não-caber-em-mim as confissões de tantas injustiças plenas , tantos crimes insondáveis
Trazei-me a bússola que me aponte o Norte ao Norte da minha vida!
Trazei-me a morte numa manhã tranquila como ponto de partida!
Eu, que tenho como respostas óbvias o cintilar dos astros, a madrugada infinda
Aguardarei todas as verdades reveláveis, todas as respostas escusas, escondidas
À beira de um rio que passa no cume da minha impermanência.

Jorge Magalhães

COMENTÁRIO

Fiquei não sei se bêbado, em transe, entorpecido ou simplesmente emocionado com o seu poema. Não vou fazer elogios, você não pede e não precisa. Apenas humildemente dizer-lhe que você é um poeta vivo, vibrando palavras quais açoites, esgrimido versos com maestria, tematizando martírios comuns a muitos, desnudando sem pudor sentimentos humanos. Abraço amigo, obrigado pela deferência de postar seus versos sob minha divagação tão simplória. (Armando Sampaio)

quarta-feira, 15 de julho de 2015

CELEBRAÇÃO DO CENTENTÁRIO DE DIVAL PITOMBO




Dival da Silva Pitombo

Uma missa na capela do Hospital Dom Pedro de Alcântara, celebrada no dia 7, pelo capelão da Santa Casa de Misericórdia, padre Carlos Vianey, marcou o centenário de Dival da Silva Pitombo. A celebração contou com a presença de familiares e amigos, entre os quais os professores Mariinha Belo Pina e Raymundo Luiz Lopes, que prestaram significativa homenagem.

Em um discurso emocionado, Raymundo Lopes destacou que Dival seguiu pelo caminho do magistério e das artes em geral, notadamente da criação e da crítica literária, sendo, também, uma espécie de mecenas, nesta terra - condição reconhecida por figuras da sociedade feirense, incluindo escritores e artistas plásticos - alguns desses, hoje, pintores de renome nacional.

O professor lembrou ainda que nos anos 40, no vigor de seus vinte e poucos anos, Dival ingressou no setor educacional, à época da fundação do Colégio Santanópolis. “Mais tarde, como diretor do Instituto de Educação Gastão Guimarães, do Museu Regional de Feira de Santana, ou ainda como Diretor de Vida Universitária (DVU) da Universidade Estadual de Feira de Santana, Dival continuaria a realizar competente trabalho pautado na solidariedade, tolerância e na ética, buscando sempre a valorização do ser humano”, destacou Lopes.  O homenageado foi também membro do Conselho de Cultura do Estado

“O seu jeito de tratar as pessoas, de ouvi-las, de buscar solução para os problemas alheios era um definidor de sua personalidade, no trato familiar ou no espaço social. À frente da Diretoria de Vida Universitária, fervilharam momentos artístico-culturais indeléveis, no Campus da Uefs e noutros locais em que ele alcançasse a comunidade feirense”, disse o professor, que teve a oportunidade de trabalhar com Dival como Assessor Cultural da DVU.

Socorro Pitombo

AMIZADE QUE DESAFIA O TEMPO




Jornalista Jorge Magalhães

Remexendo velhas anotações – ainda sou da geração papel, apesar das incursões no mundo virtual – encontrei esta pérola. Um texto marcado pelo mais nobre dos sentimentos: o amor que só os verdadeiros amigos cultuam. Sem data, a declaração de amizade de Jorge Magalhães foi escrita lá pelos idos de 1984, quando trabalhávamos juntos na extinta Revista Panorama da Bahia. A antiga lauda de papel e os caracteres da máquina de escrever manual são a prova do tempo que já não existe. O que perdura, e isso me deixa extremamente feliz, é a amizade com o jornalista, poeta, escritor e compositor da melhor qualidade Jorge Magal. 

À jovem Madalena de Jesus

Não se foge de uma paixão como quem evita um inimigo, embora os dois se confundam. Este sentimento que atropela o nosso pensamento, a nossa tranquilidade diante de novas perspectivas, não passa de um capricho dos deuses ao tentar demonstrar superioridade sobre nós, pobres e inesgotáveis mortais, vítimas dos desejos da carne e da fraqueza do espírito.

É tudo muito luz e mistério, porque nenhuma folha cai que não seja pelo consentimento de uma força superior ou seja lá que nome for. Nada, absolutamente nada, consegue mudar a rota dos beijos e nem alterar a mudança das flores. O melhor beijo é aquele que não foi dado; é aquele que foi negado e não aquele que foi roubado. É tudo uma questão de ordem, de estilo e de angulação do problema, aliás, teorema, no qual reside a paixão e tédio de Pitágoras.

Que por sinal não deu em nada.

segunda-feira, 13 de julho de 2015

VISITANDO CANTEIROS, COM CECÍLIA MEIRELES E FAGNER






Quando penso em você, fecho os olhos de saudade 
Tenho tido muita coisa, menos a felicidade
Correm os meus dedos longos, em versos tristes que invento
Nem aquilo a que me entrego já me traz contentamento

Pode ser até manhã, cedo claro feito dia
Mas nada do que me dizem me faz sentir alegria
Eu só queria ter no mato um gosto de framboesa
Prá correr entre os canteiros e esconder minha tristeza

Que eu ainda sou bem moço prá tanta tristeza
E deixemos de coisa, cuidemos da vida,
Pois se não chega a morte ou coisa parecida
E nos arrasta moço, sem ter visto a vida.


Quem já não ouviu esses versos que tocam a alma, na voz arrastada e carregada de emoção do cearense Raimundo Fagner? Sempre soube que trata-se de um poema de Cecília Meireles, com melodia do cantor/compositor, que fez dessa prática uma constante em sua carreira. 

Eis que remexendo os sites literários encontro o factivelwordpress.com, que publica o poema seguido de comentários. Um deles, assinado por um internauta que identifica-se como Valdir Silva, chama a atenção pela riqueza de detalhes:

“CANTEIROS não é um poema de Cecília Meireles.

Trata-se de uma canção com melodia de Fagner, cuja letra, nos quatro primeiros versos, foi escrita utilizando-se (de forma ilegal) de uma estrofe do poema “Marcha” de Cecília Meireles, cujo texto foi modificado para se adequar melhor à sonoridade da melodia. Esta questão já foi resolvida na justiça e Cecília Meireles foi reconhecida como co-autora da música.

A segunda quadra é de autoria do próprio Fagner seguindo a mesma temática.

Quanto à terceira quadra: Eu ainda sou bem moço pra tanta tristeza (…) são versos de autoria do compositor Belchior na canção Hora do Almoço. Vencedora do Festival Universitário da Música Popular, TV Tupi do RJ, 1968. Utilizados na gravação como música incidental (provavelmente com autorização do autor, assim como os versos de Águas de Março de Tom Jobim)”.  


Madalena de Jesus

domingo, 12 de julho de 2015

ENCONTRO COM BLOGUEIROS EM BERIMBAU (OU UMA FORMA DIFERENTE DE DISCUTIR EDUCAÇÃO)




De um lado, aproximadamente 100 meninos e meninas de olhos abertos, ouvidos atentos e a indisfarçável vontade de conhecer o “novo”. De outro, professores, jornalistas, universitários e estudantes do ensino médio, todos blogueiros, entusiasmados com a possibilidade de dividir as experiências com essa ferramenta de informação – e formação – moderna que, aos poucos, foi tomando conta do espaço virtual, até a consolidação como meio de comunicação.

O I Encontro com Blogueiros foi promovido pela coordenação dos cursos técnicos do Colégio Estadual de Conceição do Jacuípe (CECJ). O antigo CMEC, então unidade de ensino da rede municipal, sempre presente em minha memória. Foi lá que iniciei minhas incursões pela vida literária pelas mãos e mentes de grandes mestras, cujas aulas passaram pela minha cabeça como em um filme, durante aquela roda de conversa, na manhã de sábado (11).

O evento reservou agradáveis revelações, como o conferencista Guilherme da Mata, de apenas 16 anos, que faz do seu blog um instrumento de transformação: da educação, das pessoas e do mundo. Vivi também a emoção do encontro com Raulino Júnior, um professor nato e um jornalista idem, como bem mostra o seu blog já a partir do nome: “Desde que eu me entendo por gente”. E o menino Lucas Luís, que estuda Direito e já pensa, fala e escreve como profissional?

Todos filhos de Berimbau. Inclusive eu. Alguns egressos daquele colégio. Como eu. Orgulhosos de estarem ali, diante de uma plateia igualmente orgulhosa pela escolha e a certeza de que está construindo seu próprio alicerce. A iniciativa de Liz da Mata, professora de Língua Inglesa que encarou o desafio de uma disciplina técnica e transformou a prática pedagógica em algo novo. Com o apoio da coordenadora Sandra Sinara e da experiente secretária escolar Maria Assunção Santiago – a sempre encantadora “Sunta”.

O jornalista Dimas Oliveira, dono do Blog Demais, completou a mesa. Dele partiram senão as melhores as mais interessantes observações, principalmente do ponto de vista técnico da ferramenta blog e suas diferenças do site. Coube a ele, também, presentear a professora Liz e biblioteca do colégio com exemplares do seu livro “cinema demais ou era uma vez dezenas de filmes comentados e a situação do cinema em feira de Santana”. Assim mesmo, tudo em letra minúscula.

O diretor Josoel Pereira da Silva fechou o encontro com chave de ouro.  Agradecendo aos convidados, elogiando os professores e funcionários responsáveis e destacando a importância da iniciativa para os estudantes. Aliás, vale ressaltar a participação da turma. Bem informados, ouviram e falaram, apresentando questionamentos pertinentes e bem elaborados. Também pudera, com a orientação das professoras Liz e Sandra, não dava para ser diferente!

Ah sim, os palestrantes representaram os blogs Demais (Dimas Oliveira), Tabuleiro da Maria (Madalena de Jesus), Adriana Pensando... (Adriana Reis),Blog do Lucas Luiis (Lucas Luis), Blog de Guilherme da Mata (Guilherme da Mata), e Desde que eu me entendo por gente (Raulino Júnior). Embora não tenham participado, Tainá Diaz e Lorena Cerqueira foram citadas pela criação do Blog Vish.

Madalena de Jesus

sexta-feira, 10 de julho de 2015

SOU DESSE CHÃO, ONDE O REI É PEÃO




Orquestra da Terra

Sou desse chão, onde o rei é peão
Com um laço na mão
Laça a fera e marca
Deixando a ilusão de que tudo é seu
Com coragem de quem
Vive, Luta, Sonha
Em ser mais feliz
E quem sabe será

Voam livres pensamentos seus
Que vão pelo ar
O fazem sonhar
E sentir-se um Deus

Sou desse chão
Sou da terra raiz
Sou a relva do campo
E pra sempre serei
Sou esse Rei
Sou peão laçador
Do Sertão sou Senhor
Mas por força da Lei
Ser mais feliz
E quem sabe serei

Voam livres pensamentos meus
Vão pelo ar
Me fazem sonhar
E sentir-me um Deus

Sou desse chão, onde o rei é peão
Com um laço na mão
Laça a fera e marca
Deixando a ilusão de que tudo é seu
Com coragem de quem
Vive, Luta, Sonha
Em ser mais feliz
E quem sabe será

Voam livres pensamentos seus
Que vão pelo ar
O fazem sonhar
E sentir-se um Deus 


(Orquestra da Terra)

quinta-feira, 9 de julho de 2015

O SIM E O NÃO – NOSSA LÍNGUA TEM COISAS ENGRAÇADAS




Nossa língua tem coisas engraçadas. Exemplo? Aqui, no Brasil, não damos o sim como resposta. Damos o verbo. Você lembra o que aconteceu? Lembro. Quer lembrar mais? Quero. Sabe o que isso significa? Sei. E por aí vai sem nunca pronunciarmos um único sim. Com a negativa é diferente. Dizemos não e pronto. Você lembra o que aconteceu? Não. O não é imediato, preciso, definitivo. O sim se omite. O não se impõe. Cismo.  Se até no gesto o sim vem antes do não. O recém-nascido, primeiro, diz sim ao peito. Só depois, farto, diz não. Vou mais fundo e me dou conta de que o sim é movimento para cima e para baixo. O não é movimento para os lados. Por isso, para bem ninarmos um bebê, é preciso balançá-lo de leve com sins e nãos alternados. Ao se familiarizar com os dois polos, ele dormirá tranquilo. Aprendi essa lição nas madrugadas que passei com o Nuno e a Rosário. Vou adiante, descubro possibilidades. A paixão diz sim. A castidade diz não. A tentação diz sim. A virtude diz não. A saúde diz sim. A doença diz não. O esbofeteado diz não, o guardanapo na boca diz não, o pêndulo diz não. A freada do carro diz sim, os limpadores de pára-brisas dizem não. As retas da estrada dizem sim. As curvas dizem não. A plateia de um jogo de tênis diz não. No futebol, o artilheiro tem de dizer sim e o goleiro tem de dizer não. Pois sim quer dizer não. Pois não quer dizer sim.

Francisco Azevedo, em “O Arroz de Palma”

sexta-feira, 3 de julho de 2015

A ARTE E A CULTURA SEMPRE EM ÚLTIMO PLANO





Uma triste notícia para quem valoriza a arte e a cultura. Dois grandes eventos realizados pela Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs) não acontecerão este ano: O Festival de Sanfoneiros e a Caminhada do Folclore. O custo seria R$ 171 mil, valor que a administração da instituição diz não ter com o disponibilizar, por conta do corte de recursos por parte do Governo da Bahia, que soma R$ 1,8 bilhão.

Realizado no mês de maio há oito anos, o Festival de Sanfoneiros sempre atraiu grande público. As últimas edições do evento registraram a presença de sanfoneiros de diversos estados, que disputaram premiações em dinheiro em duas categorias: até oito baixos e acima de oito baixos. E já contou também com a participação de músicos renomados, como Targino Gondim, Celo Costa e Carlos Capinan, no corpo de jurados, e de Xangai, que encerrou o festival no ano passado.

Já a Caminhada do Folclore, realizada há 15 anos, chegou a ter a participação de mais de 100 grupos folclóricos de Feira de Santana e de mais dez municípios circunvizinhos, tendo se tornado um importante espaço para as mais diversas manifestações da cultura de raiz. Dois outros eventos do calendário da Uefs foram mantidos, embora com o risco de terem a estrutura reduzida, o Bando Anunciador e o Aberto do Cuca.

Madalena de Jesus