quarta-feira, 27 de abril de 2016

AINDA QUE EU FALASSE AS LÍNGUAS DOS HOMENS E DOS ANJOS


Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine.

E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria.

E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria.

O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece.

Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal;

Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade;

Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.

O amor nunca falha; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá;

Porque, em parte, conhecemos, e em parte profetizamos;

Mas, quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado.

Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino.

Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido.

Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor.

(Coríntios 13:1-13)

domingo, 24 de abril de 2016

A MÚSICA COMO ALIMENTO DA ALMA


A emoção faz parte de seu repertório. Ele fecha os olhos, respira fundo e pronto: É totalmente tomado pela música. O ritual acontece desde os nove anos de idade, mas a sensação é sempre a mesma para o menino que transformou as perdas da infância em instrumentos de conquistas para toda a vida.

Crisael Neri dos Santos Júnior perdeu os pais aos dois anos de idade. Viveu algum tempo com uma tia, antes de ir para o Orfanato Evangélico, onde passou 18 anos. Foi lá que descobriu o gosto pela música, cantando no coral depois de um teste feito pelo Sargento Amorim. No final das contas, acabou “tomando conta” do grupo.

Quando saiu do orfanato, já com 25 anos, Crisael passou um ano tentando “viver de música”, sonho que ainda alimenta. Ganhou o Festival da Comunidade Videira e em 2010 ficou em terceiro lugar no Festival de Música Gospel. Participou também de festivais em Curitiba (PR) e gravou um CD com as crianças do orfanato.

“Vai chegar a hora de viver de música”, diz o leonino que acredita que “tudo tem seu tempo”. Disposto a nunca desistir, Crisael continua compondo. A única irmã mora em Salvador e ele em Feira de Santana, onde vive com um casal de amigos. Evangélico, já trabalhou em loja de calçados e atualmente é fiscal de campus da FTC Feira de Santana.

Foi na unidade de ensino superior, durante um treinamento interno, que Crisael foi “descoberto” pelos companheiros de trabalho, ao participar de uma dinâmica de grupo. “Fiz uma pegadinha com um colega, para que ele cantasse, e no final era eu que tinha de fazer o que sugeri”, conta o jovem de 26 anos que faz da música um alimento para a alma. A dele e a de quem o ouve cantar.

Madalena de Jesus

quarta-feira, 20 de abril de 2016

CAFÉ COM BYTES. O QUE É ISTO?




A denominação do evento não poderia ser mais instigante: Café com Bytes, um fórum de discussão sobre temas da atualidade que perpassam a área de Sistemas de Informação, realizado no Auditório Professora Terezinha Mamona. Os debates envolveram estudantes e professores dos cursos de Sistemas de Informação, Psicologia e Direito da FTC Feira de Santana.

“Nesse 1º café conversamos sobre como se dá a violação de alguns direitos fundamentais, de acordo com a nossa Constituição, no âmbito das redes sociais na internet, como a falta de privacidade e o uso da imagem e as sanções previstas em lei”, afirmou o professor Fabrício Oliveira, coordenador do Colegiado de Sistemas de Informação. Ele foi também o organizador do evento.

Durante as discussões, ficou evidenciado que existe um falso sentimento de que nas redes sociais se pode fazer tudo. “As pessoas esquecem que ali, neste universo tão plural e democrático, também se deve obediência às regras básicas de convivência e de direito”, disse Fabrício Oliveira, justificando a participação de profissionais das áreas de Psicologia e Direito.

“Por isso falamos sobre a psicologia por trás das redes sociais”, completou Fabrício, que mediou as discussões com a participação das professoras Gerusa Gomes dos Santos e Aline Santos Soares, coordenadoras do Colegiado de Direito e de Psicologia, respectivamente, mais José Irahe Kasprzykowski, Jucélia Bispo dos Santos. Os alunos participaram com questionamentos e informações pertinentes ao tema.


Madalena de Jesus

terça-feira, 19 de abril de 2016

SOBRE POLÍTICA E POLÍTICOS: “QUEM COM PORCOS SE MISTURA, FARELO COME”

Aos trezentos e sessenta e sete (367) deputados que votaram a favor do prosseguimento do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff:

Não sou petista, não defendo a gestão atual, mas defendo o processo democrático. O que foi feito revela que estamos sendo guiados por homens politicamente ignorantes, moralmente corrompidos e ideologicamente comprados. Vocês são a pior representação de um povo. Vocês são a nossa vergonha e nosso câncer. Vocês, sim, deveriam ter seus mandatos cassados, porque ao contrário do belo discurso apresentado no momento em que votaram, têm uma história manchada de sangue, de roubo, de injustiça.

Os senhores votaram e justificaram seu posicionamento da forma mais cínica, hipócrita e descabida possível, usando argumentos que nem a Xuxa ousaria fazer hoje, caso precisasse dirigir-se aos seus baixinhos.

Usaram o nome de Deus para sustentar um voto comprado. Deus não se vende. Deus não é mercador e se o fosse não negociaria com pessoas tão nocivas quanto os senhores. Vocês não representam a Deus, Seu reino, Sua igreja, nem a Sua palavra. Se desejassem mesmo representá-lo cumpririam fielmente o que está escrito: “Amarás ao teu próximo como a ti mesmo” e “orem pelos que vos perseguem”. Não é isso que vejo em vocês. Eu só os vejo usando discursos de ódio e ações de igual teor. Vocês matam, perseguem, prendem, excluem e usam o nome dAquele que veio para salvar. Façam o que pregam ou parem de usar um nome santo, quando suas intenções não o são.

Falaram em nomes das famílias, mas nunca os vi mudar as palavras por atitudes e trabalhar pelas crianças que estão fora da escola, em trabalho escravo, a serviço do crime e sendo prostituídas. Não os vejo lutar para que as mulheres sejam protegidas e respeitadas em suas casas. Jamais ouvi dizer que, incansavelmente, trabalham para que as famílias sejam assistidas em suas necessidades básicas, preconizadas na Constituição. Vocês falaram em nome, APENAS, de suas famílias. As mesmas famílias que usufruem do fruto do trabalho de cada cidadão de bem dessa nação, que recebe um mísero salário e que é obrigado a pagar suas altíssimas contas, quando os senhores e suas crias precisam relaxar em viagens.

Falaram em nome dos trabalhadores... Não, vocês não falaram em meu nome. Vocês jamais me representaram e jamais me representarão. Vocês falaram em nome de vocês mesmos e o fizeram para sustentar o que recebem todo mês à custa do meu suor e cansaço extremo. Vocês votaram para defender os R$ 33.763, do salário que recebem. Votaram para manter o auxílio-moradia de R$ 4.253 ou apartamento de graça que cada um tem direito enquanto legisladores. Falaram em nome da verba de R$ 92 mil que recebem para contratar até 25 funcionários, e pelos R$ 30.416,80 a R$ 45.240,67 que chegam todo mês para que gastem com alimentação, aluguel de veículo e escritório, divulgação do mandato, entre outras despesas. Votaram para manter os dois salários no primeiro e no último mês da legislatura como ajuda de custo e ressarcimento de gastos com médicos. Quando vocês optarem por igualar o salário do trabalhador comum ao de vocês, aí, sim, teremos representantes dos trabalhadores. Do contrário, silenciem esse discurso nauseante.

Vocês disseram que votaram em nome do povo de seus estados e do Brasil. Canalhas, vocês votaram em nome de Eduardo Cunha e de Michel Temer, dois ladrões e conspiradores. Vocês são tão desprezíveis que não se envergonham de levantar a voz e dizer que estão lutando contra a corrupção, tendo como liderança dois homens envolvidos em escândalos. Quero me poupar o desgaste de citar os atos corruptos desses dois bandidos. Vocês fazem parte dessa corja e o Brasil inteiro é sabedor. O dito popular “Quem com porcos se mistura, farelos come”, bem se aplica a conduta que cada um tem tido. Se votassem ouvindo a voz do povo, teriam dito não a esse golpe descarado e vergonhoso, porque foram 54 milhões de votos que elegeram a presidente.

Se o voto foi em favor do povo, respondam o porquê de Michel Temer e Eduardo Cunha receberem o apoio de vocês para assumirem a presidência e vice-presidência do Brasil. Nas belas falas de ontem, o sonoro sim era para que a corrupção seja aniquilada do meio do povo brasileiro. Terão que se explicar, como se faz isso tendo dois dos maiores corruptos quase assumindo a presidência do país, com o apoio de vocês. Não falaram em nome do povo e sim em nome dos grandes empresários, de quem vocês recebem seus grandes favores e a quem devem obediência e devoção. Não queiram nos enganar e achar que sonos ignorantes. Vocês, sim, são os traidores do povo e da democracia, conquistada sob tortura, prisão e morte.

Afirmam que votariam pelo sim em respeito à Constituição do Brasil. Então façam cumprir TUDO o que está escrito nela, sobretudo o que diz respeito ao cidadão comum, pobre, preto, deficiente, mulheres, homossexuais e todos os marginalizados e desvalidos que ocupam todas as esquinas do país. Esse é o respeito que a nação precisa. Usar a Constituição para uma motivação partidária é o cúmulo do cinismo, o que, aliás, é a marca maior sobre suas testas.

Por fim, da próxima vez que pensarem em nos representar, tenham ao menos a dignidade de estudar leitura, compreensão e análise textual para entenderem o que se pede e saibam como argumentar. Os argumentos de vocês são falaciosos, além de baixos, tendenciosos, corrompidos e escusos. Não venham com seus discursos ridículos em nome do seus filhos, seus netos e suas esposas. Não venham falar em memória da mãezinha e do paizinho. Falem e trabalhem em nome da ética, da verdade, da justiça. Deveriam ter vergonha de falar tanta atrocidade num momento importante e usar o tempo e a oportunidade para mandar beijinhos, como se fossem crianças em programas infantis. Vocês são patéticos.

As gerações futuras saberão que um dia, nas terras do Brasil, trezentos e sessenta e sete (367), meliantes, vulgo deputados, votaram contra sua gente e sua história. E saberão que o fizeram por livre decisão, atendendo aos seus interesses e aos de seus comparsas.

Repito: Vocês são a pior representação de um povo. Vocês são a nossa vergonha e nosso câncer. Vocês, sim, deveriam ser ter seus mandatos cassados, porque ao contrário do belo discurso apresentado no momento em que votaram, tem uma história manchada de sangue, de roubo, de injustiça.

Gilmar Souza Costa, professor

domingo, 17 de abril de 2016

NEM CHORO NEM VELA (OU O VELÓRIO DOS SONHOS)



Eu morri. Alguns segundos, minutos ou horas após a constatação – a noção do tempo era quase tão irreal quanto a sensação de não estar viva – eu ainda me debatia entre ir ou ficar naquele lugar. Olhando em volta, percebi que, entre os rostos conhecidos e amados, havia pessoas que jamais tinha visto. Incompreensível. Mas segui meus devaneios sobre a inverossimilhança da situação e deixei para trás essas impressões, digamos, inúteis.

Passando entre os grupos que se formavam naquela espécie de praça coberta, algo parecido com um salão de festas daqueles bem antigos, mas sem portas ou janelas, mal ouvia as conversas que se embaralhavam, ora baixinho, ora bem alto, quase estridente, eu diria. Diálogos interrompidos, frases soltas, palavras sem nexo. Estariam falando de mim? Certamente. Mas o que? Não dava para compreender as vozes, que na maior parte do tempo formavam uma mistura de sons incompreensíveis. 

Mas um em especial chamou a minha atenção naquele velório sem corpo ou mesmo caixa funerária – talvez esta fosse a razão da leveza quase tocável que impregnava o ambiente. Apenas quatro pessoas, de pé, formando um meio círculo. Uma delas segurava uma folha de papel, de onde saltavam as letras de um belíssimo texto sobre a minha trajetória de vida – e de morte. “A jornalista que fez do caminho o ponto mais importante do que a chegada”, dizia a matéria publicada não sei onde.

Os comentários elogiosos se alternavam entre a personagem citada – no caso eu – e o autor do texto, o também jornalista Caíque Marques, um menino com passagem marcante em minha vida. “A morte é o caminho mais reto para chegar a uma outra vida”, dizia ele, compenetrado em sua sabedoria precoce, característica que sempre admirei. “Ela morreu como viveu: esparramando alegria”, escrevia mais adiante. Confesso que o verbo esparramar me surpreendeu.

Também fiquei surpresa quando, às 8h do dia seguinte, já bem acordada, telefonei para o escrevente do meu epitáfio e ele disse, com a tranquilidade que lhe é peculiar: “Estava fazendo caminhada e pensando em você”. Contei o sonho, conversamos por algum tempo, marcamos um encontro para breve, prazo que certamente não cumpriríamos, a não ser por um desses acasos inexplicáveis como o ocorrido um dia depois. E foi só.

Mas a ideia da morte não saiu assim tão fácil da cabeça. Relembrando uma conversa que tive dias antes com a jornalista Beatriz Ferreira – aquela que um dia disse que eu escrevia com a alma – sobre velórios interessantes, comecei a imaginar como seria, de fato, o momento de minha passagem deste para outro mundo. Pensei em várias possibilidades, incluindo escolha de local e até definição de lista de convidados para o velório. Teria missa? Os parentes iriam? E os amigos?

No final das contas resolvi conter as divagações e me ater apenas a um ponto. Quando eu morrer, de fato, podem fazer o que quiserem que estará tudo bem. Eu quero mesmo é ver (?) meus amigos reunidos, com muita música, poesia, literatura e casos. Podem chamar Beto Pitombo, Dionorina, Cescé, Jorge Magal, Djalma e Dilma Ferreira, Maryzélia; José Augusto e Fernando Oliveira com seus teclados; Marcondes Araújo para ler os seus minimalíssimos contos; Lia Sena para declamar uns poemas – pode até ter um recital, por que não?

Eu não vou achar nada ruim se  forem distribuídos alguns livros – estilo o projeto do Beco da Energia – e Elsimar Pondé poderia cuidar muito bem disso, junto com Caíque Marques (olha ele!) e Jamil Souza. Ah, e não podem faltar Neire Matos, Valter Xéu, Jailton Batista, Reginaldo Pereira, Geraldo Lima, Socorro Pitombo e Cristóvam Aguiar (com Maura, claro), para contar algumas passagens interessantes de minha vida. Sem apelos, espero. E sem essa história de velha guarda! Porque é melhor ficar velho do que morrer...   

Madalena de Jesus                                                                                                                                                     
                                                                                                                   

sexta-feira, 15 de abril de 2016

ZERO HORA E TRACAJÁ PRONTOS PARA A FOLIA


E foi assim...


Suas majestades escolhidas e devidamente coroadas, temas definidos e o compromisso com a alegria assumido. Assim os blocos Zero Hora e Tracajá finalizam os preparativos para a Micareta 2016. Na quinta-feira (14), os blocos mais irreverentes da cidade, num clima de muita animação e música boa, elegeram rei e rainha e divulgaram as novidades para centenas de foliões entre jornalistas, artistas e autoridades, no Bar Resenharia.

O Zero Hora, que abre a Micareta e tem como principal folião os profissionais de comunicação e seus convidados, vai para a folia fazendo uma homenagem muito especial ao radialista Edval Souza, dono do bordão que marcou o jornalismo em Feira de Santana: “Se não quer que a notícia seja divulgada, não deixe que o fato aconteça”. Para os organizadores, além de lembrar um profissional reconhecidamente comprometido com a notícia, o tema é pertinente com o momento vivido pela imprensa na atualidade.

Na quarta-feira (27), exatamente à zero hora, o jornalista Emerson Azevedo e a colunista social Lia Bernardes entram na avenida arrastando seus súditos cheios de alegria, irreverência e principalmente, comprometidos com a vida da cidade, seus problemas, conquistas, anseios e importância. Rei e rainha do Zero Hora que vão representar os comunicadores na avenida e celebrar a força da Princesa do Sertão. Ele escreve, edita, cuida do site Terra de Lucas. Ela faz a coluna mais quente do Jornal Folha do Estado, único diário de Feira de Santana. Em comum, a alegria e o amor pela profissão.

Por puro merecimento, conforme o presidente do Bloco Tracajá, jornalista Reginaldo Pereira, o radialista Silvério Silva e a cantora Maryzélia permanecem reinando em 2016. O bloco, que todo ano leva para a avenida diversas manifestações culturais do município e reúne profissionais de comunicação, artistas, políticos e representantes dos mais variados segmentos da sociedade, vem, mais uma vez, chamando a atenção para problemas que afetam a sociedade feirense. O tema será a guerra contra a Zika.

Assim como o Zero Hora, o Tracajá não tem fins lucrativos. A camisa vai custar R$ 20 e o que for arrecadado será revertido em fraldas geriátricas que serão doadas para o Lar do Irmão Velho. “Uma brincadeira solidária. Homenageamos a cultura feirense, fazemos alertas para os problemas e ajudamos àqueles que contribuíram durante uma vida inteira com o desenvolvimento da humanidade, os nossos anciões”, diz Reginaldo Tracajá. O bloco sai no domingo (01), às 12h.

O texto é da jornalista e foliã Neire Matos

domingo, 3 de abril de 2016

AMIZADE SINCERA


Renato Teixeira


A amizade sincera é um santo remédio
É um abrigo seguro
É natural da amizade
O abraço, o aperto de mão, o sorriso
Por isso se for preciso
Conte comigo, amigo disponha
Lembre-se sempre que mesmo modesta
Minha casa será sempre sua
Amigo
Os verdadeiros amigos
Do peito, de fé
Os melhores amigos
Não trazem dentro da boca
Palavras fingidas ou falsas histórias
Sabem entender o silêncio
E manter a presença mesmo quando ausentes
Por isso mesmo apesar de tão raros
Não há nada melhor do que um grande amigo


sexta-feira, 1 de abril de 2016

SOBRE POETAS E POESIAS: OS MICROCONTOS DE MARCONDES ARAÚJO



Falávamos de poesia, eu e dois colegas de trabalho, já no finalzinho do expediente. Me emocionei lendo um texto que produzi em agosto de 2011, em homenagem a meu pai (Amílcar de Jesus), e acabei lembrando de uma frase que escrevi em um dos muitos momentos de lembrança do inesquecível Egberto Costa: E de repente a saudade salta do coração e chega aos olhos. Quase ao mesmo tempo eles disseram que eu era poeta. Nada! Apenas junto palavras. Poeta é quem transforma palavras frias em versos e os distribuem almas afora. Como Marcondes Araújo e seu minimalismo fantástico. 
(Madalena de Jesus)


Iluminária

O facho de luz só se torna visível ao iluminar as partículas que estão no ar.

Estética da ignorância

Não deixa de ser bonito: o livro aberto, em cima do monturo de lixo, com as páginas sendo passadas, uma a uma (talvez lidas), pelo vento.

Fora da rota

O avião passou por cima de minha casa, como nunca tinha acontecido. Fiquei a admirar aquela maravilha da inteligência humana. Mas logo vi que ele estava fora de rota. Fiquei aguardando a notícia de um desastre aéreo, que não veio. Aí passei a imaginar que finalmente a gente pode chegar a um outro destino, a um lugar melhor. Mas também não tive notícia disto.

Sede

A saudade era tanta que ela todo dia torcia a camisa dele, para ver se ainda saía uma gotinha de suor.

Naufrágio

A mulher, linda, maravilhosa, agarrou-se, no desespero, ao seu pescoço, tentando salvar-se do afogamento. Ele sabia nadar, mas se deixou arrastar, com ela, pela correnteza. E teve tempo de sussurrar-lhe ao ouvido: Você é vida!

Execução

Eu fumava no alpendre da casa, e os faróis encadearam meus olhos. Mas deu pra ver ela saindo do carro, correndo em minha direção, gritando “socorro”: nua, com os braços abertos. Linda! Linda! Ouvi o tiro, e antes dela cair nos meus braços, senti a pancada na testa. E morri.

Madalena

Pistola engatilhada, pisando no pescoço do policial que arrecadava dinheiro com o crack, o miliciano reivindicava, em meio ao povo da favela: "Quem vai atirar a próxima pedra?!"