sexta-feira, 16 de setembro de 2016

FOLHA DO NORTE, A MINHA ESCOLA DE JORNALISMO




Era final da década de 70. Isso mesmo. 1978, para ser mais exata. Dia 20 de dezembro, quando todos se preparavam para celebrar o Natal, lá estava eu no primeiro dia de trabalho, pelo menos de caráter formal. Sim, porque até então eu já tinha feito muitas coisas – de reforço escolar e vendedora de produtos Avon a professora do Mobral (grande programa de alfabetização de adultos) – como forma de garantir uma remuneração básica, principalmente para comprar livros. Afinal, éramos nove em casa e meus pais não tinham condições de disponibilizar a “caixinha”, a não ser esporadicamente.

Nem o destemor dos 20 anos, nem as orientações do mestre Zadir Marques Porto durante o estágio do curso de Redação no Colégio Estadual, e que eu sigo ainda hoje, impediram o nervosismo típico dos iniciantes. Eu estava diante de uma grande escola e era a minha chance de me especializar na profissão que escolhi. Não havia Faculdade de Jornalismo em Feira de Santana e era nas redações dos jornais que aprendíamos a ser comunicadores de fato. Foi assim comigo e com a grande maioria dos profissionais de comunicação que ainda estão no mercado.

É certo que nessa área aprendemos o tempo inteiro. Aliás, não podemos descuidar desse processo. Mas o Jornal Folha do Norte foi realmente a minha escola de Jornalismo. Lá aprendi não apenas a melhorar a escrita, primeiro como revisora, depois redatora e, só então, repórter, mas lições fundamentais para o pleno exercício da profissão, como o respeito ao leitor, às fontes e, principalmente, à notícia, nossa matéria prima diária. Lá, aprendi que a humildade e a gratidão caminham sempre juntas, para não correr o risco de esquecermos de nenhuma delas.

Sempre digo que não acredito em coincidências, por isso, acho que o fato do meu professor de Geografia do Colégio Estadual, José Luiz Navarro Silva, ser um dos donos do jornal não foi obra do acaso. A ele devo conselhos que só os amigos de verdade têm coragem de dar. Sem falar nos estímulos. O mais gratificante era que ele acreditava em mim. “Você vai longe, menina”, dizia o professor orgulhoso da ex-aluna, de quem se tornaria advogado tempos depois. Como não lembrar de suas palavras de incentivo a cada texto publicado? Bom, não fui tão longe, como ele previu, continuo com as raízes fincadas em Feira de Santana, mas os ensinamentos valeram.  E muito.

As paixões literárias não se limitaram ao professor José Navarro. Talvez por conta da política, onde profissionalmente sempre estive com os dois pés, a relação com o também proprietário Hugo Navarro Silva se tornou igualmente sólida. Dono de um texto impecável, principalmente crônicas com teor político, Dr. Hugo sabia usar as palavras como ninguém. Eu lembro que morei um tempo em Itabuna, no Sul da Bahia, quando ainda não tínhamos as facilidades das redes sociais, e um amigo se encarregava de recortar e guardar para mim, toda semana, a sua crônica publicada na Folha. Guardo com carinho uma coletânea de seus textos.

Durante a minha passagem pelo jornal Folha do Norte foram muitos os encontros e as amizades construídas para toda a vida. Jailton Batista, meu grande amigo JB, com quem trabalhei em outras oportunidades, inclusive quando assumiu a Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer; Manoelito Guimarães, que há muito foi para a eternidade; Luiz Gonzaga, nome de artista e alma de jogador de futebol; Edson Paschoal e Henrique Cerqueira; Vanda, inesquecível! Só para citar alguns. E havia ainda os agregados. Quem não lembra de Glarkas, o artista plástico que emoldurava as paredes do jornal? E Dr. Evandro Cardoso, o psiquiatra atrapalhado que cuidava de todos.

A verdade é que a vida profissional foi me levando para outros órgãos de comunicação – Jornal Feira Hoje, Revista Panorama da Bahia, Revista Hoje – e assessorias de órgãos públicos e empresas privadas, mas nunca me afastei totalmente do Folha, que neste 2016 tão conturbado pelos problemas políticos do país chega a 107 anos de fundação, no dia 17 de setembro. Diário, semanal, mensal. Não importa. Ele está sempre ali, inclusive virtualmente de uns tempos para cá, como referência do Jornalismo feirense.

Estamos cada vez mais nos acostumando com mudanças, muitas delas implicando em perdas. No entanto, há situações inimagináveis. Não dá para imaginar, por exemplo, Feira de Santana sem o Jornal Folha do Norte. A cidade e o veículo de comunicação estão ligados pelo tempo, uma relação que envolve da política à cultura, do comércio à indústria, da educação à saúde. São indissociáveis. Enfim, é a nossa história impressa, registrada, guardada, preservada, respeitada. Só não sabemos até quando...

Madalena de Jesus 

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