domingo, 22 de janeiro de 2017

SOBRE O PRAZER DE LER



Rubem Alves, escritor


Cientista revela como ler seis vezes mais rápido.

Não foi a primeira vez que eu vi um anúncio desse tipo. E novamente senti uma sensação meio incômoda, ao imaginar alguém lendo um texto elaborado com todo o cuidado de forma açodada, sem sentir o real prazer proporcionado pela leitura, o que impede a interpretação correta ou a identificação das mensagens propositadamente escondidas nas entrelinhas.

Então eu lembro Rubem Alves, que em “Escritores e Cozinheiros” diz que ninguém faz nada que dê prazer com pressa. Pelo contrário, faz bem devagar e, quando termina, quer repetir. Ele compara o ato de ler a fazer amor e mostra, com detalhes, que nos dois casos se você quer acabar logo é porque não é bom. E ainda sugere uma terceira situação em que a pressa não tem espaço: comer.

Realmente, de nada adianta ler sem prender a respiração esperando a próxima página e chegar ao fim sem pressa, prazerosamente. Um dos meus exemplos mais marcantes desse exercício foi com “A menina que roubava livros”. Inicialmente difícil e posteriormente instigante, a leitura foi tomando meu fôlego de tal forma, que nos capítulos finais eu economizava, estabelecia o número de páginas, adiando o final.

Para quem escreve, um anúncio como o citado no início do texto é desanimador. Porque o processo da escrita é – ou pelo menos deve ser – cuidadoso, para que o leitor não sinta as dores da criação, mas apenas o prazer de ler, com as palavras escorrendo como o sumo de uma fruta madura. Bem devagar, para que o gosto não perca na agonia de engolir tudo de uma vez.

Madalena de Jesus  

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